sexta-feira, 22 de julho de 2005

O Recreio

Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar -
Balouço à beira de um poço,
Bem difícil de montar...

- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...

Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...

- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...

Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...

- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...

Mário de Sá-Carneiro
Paris, Outubro de 1915

Tudo ou Nada

Nada passa por nós sem nos marcar, como água numa areia de infância ou numa pedra adulta e irregular. O tempo, essa linha, traz e leva pessoas na nossa vida, como um vento louco. Todas elas nos fazem o que somos. Todas nos dão recordações boas ou menos boas. Todas são especiais, à sua maneira.
Um amigo especial ensinou-me a viver um dia de cada vez. Cada dia é uma vida, e devemos encará-lo com toda a seriedade de ser o primeiro e o último.
Li há pouco tempo que a única coisa que podemos mudar é o dia de hoje, visto que o de ontem já acabou e o de amanhã ainda não existe.
Pessoas que marcam porque nos amam, porque nos odeiam, porque nos impressionam. Gestos de afectividade ou incompreensão.
Mês de Julho, calor nos corpos e nas almas. A minha cabeça cheia de ideias, de sonhos, de desejos. Uma criança a meu lado que brinca. Um sobrinho que faz anos. Um pai convalescente. Tudo em circuito que não pode parar, que quase nos sufoca a alma, tantas coisas, tão pouco tempo, tanta água a marcar a que afinal deve ser areia e não rocha porque me sinto doce.
Hoje, estou feliz.