quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Sonhos

"Eu tenho um sonho. Eu sonho que as minhas quatro crianças vão um dia viver numa nação onde não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação numa bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, defender a liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livres. "

Martin Luther King

sábado, 24 de setembro de 2005

Como será estar contente?

Como será estar contente?
Lançar os olhos em volta,
moderado e complacente,
e tratar com toda a gente
sem tristeza nem revolta?

Sentir-se um homem feliz,
satisfeito com o que sente,
com o que pensa e com o que diz?
Como será estar contente?

Deve haver qualquer mecânica,
qualquer retesada mola
que se solta e desenrola
no próprio instante preciso,
para que um homem de carne,
de olhos pregados no rosto,
possa olhar e rir com gosto
sem estranhar o som do riso.

Na minha tosca engrenagem,
de ferrugenta sucata,
há qualquer mola de lata
que não se distende bem,

qualquer dessorada glândula
ou nervo que não se enfeixa,
qualquer coisa que não deixa
deflagrar essa girândola
de timbres que o riso tem.

Não ter riso e não ter casa,
nem dinheiro nem saúde,
não se conta por virtude
que a miséria é ferro em brasa.

Mas ter casa, ter dinheiro,
ter saúde e não ter riso,
flagelar-se o dia inteiro
como se o sangrar primeiro
fosse um torrnento preciso,

tê-lo sempre forte e vivo,
espantado a todo o momento,
isso sim, será motivo
de grande contentamento.

António Gedeão, O Carrossel do Sonho

Poema de Leste

Tenho a colaboração, na gestão da minha casa, de uma senhora ucraniana. Privilégio, porque qualquer colaboração no nosso espaço íntimo é positiva na medida em que nos alivia de trabalhos extra e permite - sobretudo em anos de estudo e trabalho acrescido - algum tempo de qualidade para nós próprios. Privilégio, porque não é todos os dias que se encontra alguém amigo. Privilégio, porque ter uma pessoa amiga, culta, simpática, carinhosa, a partilhar o nosso espaço pessoal e a dar-nos lições de vida, limpar-nos as lágrimas, falar-nos de terras distantes, de outras culturas e vivências é fantástico.
O profissionalismo com que os emigrantes de leste encaram cada uma das tarefas que fazem é fabuloso. A competição é impossível. As qualificações muito superiores aos trabalhos exercidos em Portugal não os tornam soberbos ou desleixados, mas dedicados e perfeccionistas. Lição número 1: se nos empenharmos em tudo o que fazemos, mesmo na mais ínfima tarefa, estamos a dar à vida uma correspondência total.
A minha colaboradora merece ser feliz. Julgo que o é. Em circunstâncias familiares e culturais que não sei se eu própria ultrapassaria. Chama fofinho ao meu filho, abraça-o, traz-lhe chocolates e mimos. É minha amiga.
E a poesia está aqui. Porque é poeta. E não trouxe livros consigo. E a sua formação académica se concretizou em russo, ucraniano e alemão. Por isso, vários amigos andaram à procura de poesia - bendita internet - e agora tem o que ler. Devia Portugal ter mais estruturas para que quem vem se sinta em casa. É uma casa portuguesa? Temos tradição de bem receber. De mimar e apoiar quem foi mal tratado. Mas pensamos em detalhes como sejam a manutenção de estruturas culturais apropriadas para que espíritos bons, doces e criativos se mantenham acesos?
Já sei dizer bom dia e adeus, grande e fofinho. Ela sabe falar uma amálgama de português, escolhendo as expressões com carinho e de forma apropriada, usando muitas, muitas metáforas, poeta desenraízada, poeta sem gramática, alma toda no que diz, no que agradece sempre por mais um dia, por parar e tomar um café e fumar um cigarro e conversar sobre tudo e nada.
Poesia de leste, vinda nos olhos claros de uma mulher - mais uma - igual a nós, portuguesas, que tem de diferente apenas a alma doce, doce, que fala poesia em russo traduzida por gestos e palavras empilhadas com arte, descuidadas, deixando cair expressões belíssimas que tanto tempo demorariam a combinar a quem licenciado na língua de Camões as procurasse.
Poesia russa. Para aprender, mesmo em português. Recomenda-se.

sábado, 17 de setembro de 2005

A natureza do título

"Segundo a minha maneira de pensar, um título é parte integral de uma história. Posso explicar? Em minha opinião, a essência de um bom título pesa mais depois de termos completado a história do que antes de a começarmos. Se isso não for verdade, então ou a história ou o título ou ambas as coisas, são triviais. Porque não? Uma história realmente boa não responde a tudo. No fim de tudo, a vida não é uma resposta para tudo. Resam ambiguidades. Resta o espaço para a dúvida."

Isaac Asimov, Mensagens do Futuro

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Crianças em férias

Todos somos crianças quando estamos em férias. O que prejudica - ou pode prejudicar - seriamente as crianças que levamos de férias connosco. Compatibilizar férias de grandes e de pequenos, por muito que se pregue, com um sorriso politicamente correcto, não é fácil. Não é fácil porque estamos cansados e queremos dormir. Porque a disponibilidade que temos para trabalho e família e nós e trabalho e reuniões da escola e festas e cinemas e levar e buscar todo, todo o ano precisa de uma pausa.
Sou partidária de férias conjuntas - adoro ir de férias com o meu filho - após um descanso necessário ao corpo e ao espírito. Para que não se vejam por essas praias fora pais com cara de sacrifício a empurrar os filhos de um para outro. Para que se possam usufruir e partilhar algumas experiências engraçadas e memoráveis.
Se dedicarmos as férias familiares aos que estão a começar a sua vida e a sua exploração do mundo. Se soubermos ter a disposição, o sorriso fácil e natural, a tolerância, será tanto mais fácil a união de esforços quando se regressar à rotina.
E não há nada mais divertido que experimentar fazer bodyboard...