sexta-feira, 28 de abril de 2006

Dois meses

Setembro ainda há pouco se afastou e fiz as primeiras viagens a descobrir um caminho que se encheu rapidamente de chuva e cansaço e cafés em estações de serviço. Muitos quilómetros preencheram este mestrado, muitas vindas a Portalegre (faltam oito viagens, dois meses de aulas). Conheci pessoas muito bonitasm espero que amigos que não se separem nunca, diferentes, uns claros, outros gritantes, uns inseguros, outros inesperados, bonitos como um castelo de legos, completos, realmente unidos ao fim deste ano.
A paisagem humana foi-se tornando próxima, os nossos horizontes também, a chuva foi tornada calor este fim-de-semana, em que as cegonhas procuravam sombra, o sol torrava, e as flores brancas que cobriam os campos a preparar a Páscoa entraram em Abril de todas as cores. Nenhuma árvore sózinha, rebanho procurando sombras em tapeçarias que distraem da estrada certa e uniforme.
Faltam dois meses para conseguirmos todos algo que foi um ano de esforço, para muitos de mudanças, para outros de crescimento, para alguns de dor. Os nossos dias são sempre tão inesperados. De uma semana para a outra, as cegonhas abrigaram-se e vieram as flores de abril fazer-nos sorrir e certificar-nos que tudo está bem.

domingo, 16 de abril de 2006

Páscoa

Foi durante muito tempo uma época tão marcante como o Natal ou o Verão. As reuniões de família alargadas traziam no tempo mais leve o embalar das conversas de fundo dos adultos e das nossas corridas. As surpresas - cada ano, as surpresas - eram que em cada ano tudo era novo, até nós mesmos.
A calma dos nossos dias ao passar por estas quadras, vividas com menos intensidade, com o urbanismo de ter mais um feriado para acertar trabalho em atraso e fazer um ou outro programa breve, torna estes dias bastante mais transparentes para a geração nova. Para a nossa, certamente mais tristes.
O meu Pai continua a comprar-me ovos de chocolate - espero que não páre por eu ir fazer 40 anos - e a minha mãe a contar histórias de tempos passados e presentes, omnipresente, omnisciente de todos os sentimentos familiares, discreta e sábia, doce com todos.
O meu dia de hoje foi passado em família, mas mais centrado em organizações e programações de dias que hão-de vir. Não que o futuro não nos faça sorrir, mas há dias que deviam ser vividos por eles próprios e não como tempo livre para.
Chegou ao fim mais um período de férias escolares. Estamos numa primavera meio carrancuda, a arrancar papoilas difíceis por essas estradas e arco-íris que lembram roupas a pingar em varais fora de época.
Boa Páscoa. Feliz Primavera. Que venha o sol, já tardam sorrisos abertos.

quarta-feira, 12 de abril de 2006

3674 até agora...

São precisas 4000 assinaturas.

Assine a petição pela acessibilidade electrónica portuguesa!

Boa noite

O sol já foi, a hora mudou, os caminhos continuam os nossos, boa noite, quarto crescente a começar a dar luz, mesmo na cidade, difusa como uma mensagem por decifrar. "We can only make our pictures speack."

(não precisa de legenda, um único homem podia dar a vida pela arte e pela beleza desta forma)

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Turner

Norham Castle, Sunrise c. 1835-40; Oil on canvas, 78 x 122 cm; Clore Gallery for the Turner Collection, London.

Vale a pena visitar http://www.tate.org.uk/britain/turner/

Suchi e Scrats

Serão confuso... mas divertido!





I Parte: Jantar japonês. Não sou relutante a experiências alimentares. Não sou esquisita. Sinto-me obrigada a juntar uma componente cultural a este post. Sushi é um prato tradicional japonês, baseado numa forma de conservar peixe, entre arroz e sal, pressionado durante semanas. O peixe fermentado e o arroz ficam então considerados prontos a comer. No séc. XVIII, um janponês de nome Yohei decidiu servir o sushi na forma conhecida actualmente, usando vinagre de arroz. Continuam a existir muitas variantes, como a de Osaka, em que o sushi é apresentado depois de pressionado com arroz entre barras de madeira. O mais comum no ocidente é o chamado nigiri sushi, peixe e arroz, enrolados com algas e ... chega de cultura. Com todo o respeito, de facto fico-me pelos ensopados de borrego portugueses.


II Parte: Ice Age 2 - The Meltdown


Tradicionalmente as sequelas não são comparáveis à surpresa dos primeiros filmes. Neste, o factor conhecimento foi inteligentemente aproveitado, sobretudo na hilariante personagem do pequeno e nervoso esquilo (?) Scrats. Dirigido pelo Brasileiro Carlos Saldanha, todo o filme tem um humor constante, bom ritmo, muitíssimo engraçado. Um momento de boa disposição. Rir é necessário.

E agora, vou comer um iogurte...

domingo, 9 de abril de 2006

Nasceu a Sofia!

Ontem às 2h recebi um sms a informar-me da vinda ao mundo de mais uma amiguinha: a Sofia. Há poucos minutos, o seu pai enviou-me três bonitas fotografias da princesinha acabada de chegar. Comoveu-me muito o nascimento desta menina. Todos os nascimentos devem ser celebrados com alegria, mas este é por demais especial. Conheci os pais da Sofia há pouco tempo, por razões de trabalho/interesses comuns. Aguardava-se a vinda próxima deste bebézinho já tão amado, já chamado pelo nome. A sua vinda é uma prova de coragem porque tratar de um bebé não é fácil, todos o sabemos ou calculamos. Quando o pai e a mãe não têm o sentido da visão, a coragem tem que ser redobrada. Ao receber as três fotografias da bela Sofia, não pude deixar de pensar como era grande o gesto de partilha dessas imagens com os amigos. Claro que a Sofia sabe muito mais que nós sobre o amor e não precisa que os pais a vejam mas que a amem com aquele amor grande que têm. Dorme com o ar de um bebé feliz e sereno. O essencial é mesmo invisível para os olhos. Mas quando o Nuno me enviou estas fotos, os meus ficaram turvados. E que bonita é a Sofia, na serenidade e tranquilidade de quem dá e recebe amor, sem se importar com nada mais.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Descomprimir

Descomprimir é preciso. Por isso hoje passei um dia fantástico e vou continuá-lo dentro de momentos. De manhã, organizei algumas coisas básicas ao funcionamento da casa, dos meus estudos e da minha sanidade mental. Almocei pizza com o meu filho e estivémos a ler na Gulbenkian, no jardim, tempo moderado. Demos uma volta pelo Museu (atenção, gratuito para professores e estudantes). Foi giro revê-lo pelos olhos do João que já não ia lá há muito tempo e deu outra atenção a algumas peças. Estive com os meus pais. Vamos jantar a um restaurante japonês e vamos ao cinema. Amanhã temos bilhetes para o Teatro, arranjados por um amigo que trabalha numa rádio local. Fantástico. Dois dias que parecem férias. Claro que de permeio vou tendo uns rebates de consciência e olhando para os livros que me aguardam com um ar muito sério... Mas é preciso sorrir e descomprimir, acompanhar um pouco as férias familiares. Até porque as crianças são bastante sacrificadas nas suas férias. Nós tínhamos férias. Eles acompanham os pais para os empregos ou ficam em casa dos avós ou ficam nos ATLs. Com horários, sem liberdade. Pelo menos um ou dois dias destas semanas de intervalo de aulas, colaborar com as crianças, descomprimir e brincar com elas, correspondendo à sua compreensão das nossas dificuldades e compromissos nos outros dias. E faz-nos bem... :o)

terça-feira, 4 de abril de 2006

Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
-Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém... "

Poeta português, Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa em 19 de maio de 1890 e morreu em Paris a 26 de abril de 1916.

"Sá-Carneiro não teve biografia: teve só génio. O que disse foi o que viveu."

Fernando Pessoa

domingo, 2 de abril de 2006

Passatempos


Além das minhas fugas de casa, de triciclo, entre os três e os cinco anos, a minha relação com a grande invenção que é a roda só se restabeleceu aos 18 quando tirei a carta. Neste momento, a fazer 700 km por semana, acho que se não acabar o Mestrado ficarei certamente com a carta de pesados Honoris Causa... Mas acho piada às alusões do Calvin à dificuldade em começar a andar decentemente de bicicleta porque me lembram as minhas pobres tentativas (poucas, verdade seja dita e muito mal sucedidas). Para quem consiga, deve ser uma boa forma de praticar desporto, ver sítios bonitos, conviver. Eu cá me vou ficando pela minha natação e pelas minhas caminhadas (usando ténis sem rodas...). Um abraço, pela coragem, a todos os adeptos. Fazer desporto é são e importante. Conviver também.

O mar e um soneto


"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente. "


Soneto de Vinicius de Moraes (1913-1980) , fotografia de Henry Robinson (1830-1901).

Ambos admiro, fez-me sentido a união. A beleza não precisa de grandes explicações.