domingo, 30 de julho de 2006

Setúbal

Ocupada desde o Neolítico, a Cetóbriga romana sempre foi uma zona de aproveitamento de recursos e comércio. O sal e o peixe foram produtos tirados ao mar que ainda hoje têm traços nos hábitos, casas, embarcações, terminologia. Interessante visitar a Estrada Romana do Viso, o bairro da Tróina (trróina, com dialecto local), saber que após o Terramoto de 1755, quando o estado quis proceder à reconstrução ela já estava desencadeada pela população local (vestígios ainda em ruas com estrutura medieval do século XVIII), sobreviver era necessário, não os escombros.

De autonomia e algum sofrer se fez a história desta população. Setúbal é hoje um pólo urbano em desenvolvimento, um pólo de atracção turística, mas também um centro de graves carências sociais. Fome, suicídios, prostituição, lenocídio, evasão escolar são assuntos em quase permanente debate político, alvo de intervenções desajeitadas/desadequadas por parte de grupos religiosos e ONGs.


A simpatia passa nas ruas, no entanto, pessoas calmas, atenciosas, fora do tempo e do sofrer, acolhedores e trabalhadores. O turismo é incentivado porque emprega, as bandeiras locais não são partidárias mas de sobrevivência, na direcção de um desenvolvimento que se pretende sustentado, custe o que custar. Novo terramoto, novo levantar dos escombros. Vai-se a Setúbal passear no Sado, ver os golfinhos, visitar os galeões do sal, conduzidos pelos Mestres sem idade e com perícia. Vai-se a Setúbal almoçar bom peixe fresco bem cozinhado, provar ou adquirir doçaria regional. Cultiva-se a divulgação e manutenção do património construído (Forte de São Filipe, Aqueduto, Convento de São Francisco) e cultural, nos ex-libris Bocage, Luísa Todi, Sebastião da Gama.

Os ataques seculares às riquezas trabalhadas continuam. Agora pretendem-se trocas justas e o fim de uma história de uma população cansada de produzir. Como uma vela desfraldada a pulso, finalmente, sem medo de ventos outros. O futuro como rumo, caminho único, sempre desconhecido. Sem olhar para trás.



Em paz


O Vento enchia o Mundo. Mal deixava
lugar para a tremenda voz das ondas.
Mas era o Mar apenas que se ouvia.


Sebastião da Gama



Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!
Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.

Bocage

Prenúncios de morte

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos
-Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrêla a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos
-Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sôbre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai
-Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte
-De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem;
da morte apenas
Nascemos, imensamente.

Vincius de Moraes

War and Peace

As preocupações de 500.000.000 de utilizadores... Prioridades?




A realidade, sem poesia ou em nome dela:

Os meninos de sua mãe, sempre...

Nós que aqui estamos...



sábado, 29 de julho de 2006

IM-PERFEITOS


"Ninguém sabe...
e,
nem pedindo ao céu que nos guia podemos saber,
quanto é tarde..."

Pedro Ayres de Magalhães

sexta-feira, 28 de julho de 2006

Sinais de Fogo 2

". . . I’m standing on the edge of some crazy cliff. What I have to do, I have to catch everybody if they start to go over the cliff—I mean if they’re running and they don’t look where they’re going I have to come out from somewhere and catch them. That’s all I’d do all day. I’d just be the catcher in the rye and all."

Outros autores, outras culturas, a mesma infância confusa, deslocada. Salinger, neste caso.

“Todos reconhecem os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi desta época que a cidade começou a ouvir falar dos Capitães da Areia, crianças abandonadas que viviam do furto. Nunca ninguém soube o número exacto de meninos que assim viviam. Eram bem uns cem...”

Também Jorge Amado com Teresa Batista, com os Capitães de Areia, meninos de rua da Bahia, década de 30, crescidos na luta e no amor, Capitão Pedro Bala, Camarada Pedro Bala, qual a diferença de sonho?

Infâncias marcantes, infâncias conscientes, a versão banda desenhada é igualmente crua, não é à toa que os personagens mais marcantes da BD de intervenção são crianças ou jovens, lutas de identidade e de identificação, sempre, num real de que se destacam e com que não se identificam, de que se sabem prisioneiros porém...






Corremos para quê, quando crescemos? Paramos para pensar em quê, contra quê reagimos, quando o mundo é mais forte que o sonho de ser diferente, de ser único, de ser feliz? No entanto, cada geração continua o processo de crescer contra algo, de manter o idealismo e a pureza de um estado que se pretende eterno contra as intrusões que - sabemos - já estão em nós à partida.

Resta continuar o caminho, sorriso rasgado, baralhar a vida seja como for, cultivar Peter Pan e a Terra do Nunca, mesmo que fique dentro de nós.



Sinais de Fogo

"Para a verdade caminham corpos que a não conhecem
ou a conhecem apenas de nome trocado.
Assim desliza o vento pelas estradas humanas
entre a voz das searas ondulando nele."

Jorge de Sena permitiu-me ler um romance fantástico sobre crescimento, sobre sentimentos, sobre preconceitos, sobre juventude, sobre mim e todos nós. Sinais de Fogo tem sempre algo de novo, sabe a memória, é agressivo e doloroso, é desajustado como a roupa que não serve mais ou que passou do irmão mais velho, ou da geração de cima.

Crescer é difícil - ultimamente vemos crianças armadas a mais - em crescidos mais ainda porque nos deixámos esquecer ou lembramos só as quedas e levemente as descobertas. As memórias são sempre difusas e descontroladas, vem à minha agora A Misteriosa Chama da Rainha Loana. Não ter infância é terrível. Ter tido e perdê-la igualmente duro. Os homens precisam de raízes bem fundas e bem sólidas, precisam de parar e reflectir e perceber. Cicatrizar as dores, saborear os desejos, regar os sorrisos. Como num deserto, crianças que deixam armas e brincam em paz, entre a certeza permitida pelo Olimpo e a inconstância do mundo dos homens, que são necessárias para empurrar o futuro para bom porto.

A vida não é em linha recta. As memórias e os crescimentos, as iniciações, as incorporações do real passam por ferros: Fogo e Chama, palavras usadas por dois homens que falam de memórias.

Também o vermelho ardente pode ser esperança, também a Fénix renasce das cinzas.

quinta-feira, 27 de julho de 2006

Make love not war

Auguste Rodin, The Kiss
1888 - 1889, marble, 181,5 x 112,3 x 117 cm

Admirável o percurso de Rodin, os seus amores com Claudel, a sua escrita, os seus esboços, o seu percurso no inferno de Dante. Assim nasceu O Pensador, assim nasceu O Beijo. Durante a visita ao segundo círculo do inferno, Virgílio e Dante encontraram Paolo e Francesca, dois amantes italianos da Idade Média, amor trangressor e quase incestuoso dado que Francesca era casada com o irmão de Paolo. Francesca e Paolo apaixonaram-se profundamente, arrastados por leituras e interesses comuns, tendo a consciência do seu amor e a troca do seu primeiro beijo levado a uma maldição de Gianciotto, o marido traído, fixando as suas sombras no inferno, eternizando o beijo. Muito criticado pelo despojamento e entrega dos amantes ao seu destino consciente, Rodin procurou simplesmente não distrair o observador da pura emoção contida no tema, captar e transmitir a ideia, reforçando a sua potencialidade de escultor, fotógrafo suave de imaginários, construtor de sonhos e interrogações.
Num tempo em que a guerra é próxima e permanente, em que os infernos menores que se situam a ocidente são cultivados com um carinho sádico, parece-me a eternização do beijo ser um mal menor, menos rotineiro e menos severo na sua punição que toda a violência e sofrimento que os homens libertos, donos do mundo, espalham ao seu redor.

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Crianças (?)

Cresci com Astérix. Aprendi assim as primeiras letras, o francês, o humor de Goscinny e Uderzo faziam parte das minhas conversas, eram - são - private joke familiar. Sabíamos os textos de cor, víamos os desenhos sem ver. Gália, conquista Romana, fez-me gostar de História. Marcou a minha vida. Tantas marcas na nossa vida, como a águia romana, a fazer estragos - marcas, cicatrizes, dores, fruições.

Astérix é imortal, hoje transformado em beijo de sms, sinal de vitalidade indelével, corajoso guerreiro, impetuoso, Astérix é tudo o que gostaríamos de ser. Intocável, algo acima do mundo e da dor, poucas vezes corruptível, triste apenas quando não corresponde ao que sabe ser capaz (ver Le Chaudron).

Obélix é a ternura, o nosso lado desajeitado, o amigo grande que se enconde em nós e só quer mesmo abraçar e amar e viver, sem grandes preocupações com o amanhã, feliz consigo próprio, tímido como todos os felizes, descarga emocional permanente nas suas paixões por Falbala, protector da sua própria fragilidade em Ideiafix, que de tudo precisa menos de protecção, aceitando-a, no entanto, paciente.

Li vezes sem fim estes álbuns, sobretudo na fase Goscinny de argumentos, de trocadilhos, as palavras podem ser uma fonte de mal entendidos e ele compreendeu-o genialmente. Procuro-os quando quero sair do mundo e voltar ao tempo sem tempo dos sonhos e das histórias acabadas à volta da fogueira, com todos os que conhecem o nosso nome e evitam cantares de bardo.

Estão entranhados no meu imaginário como genes no meu corpo, são demasiadas palavras, demasiado certeiras, lidas em fase-esponja, ternura aos quadrados, para toda a vida.

Os sorrisos largos de Uderzo são irrepetíveis, ninguém pode sorrir menos que Obélix - olhos fechados - ou menos seguro de si que Astérix - olhos bem abertos e seguros - quando tudo está bem, o dia começa e eu escrevo sobre a infância que vivo ainda hoje.

Idéafix, que vai connosco para sempre, mesmo escondido no fundo de um saco de bagagens, latindo de quando em vez para nos lembrar que somos felizes.

terça-feira, 25 de julho de 2006

Amarra o teu arado a uma estrela

"Se os frutos produzidos pela terra
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto as peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor
Se os campos cultivados neste mundo
São duros demais
E os solos assolados pela guerra
Não produzem a paz
Amarra o teu arado a uma estrela
E aí tu serás
O lavrador louco dos astros
O camponês solto nos céus
E quanto mais longe da terra
Tanto mais longe de Deus"

Aldebaran, a minha estrela favorita, onde amarro o meu arado, que dorme no dia que para mim começa.

Único


"Il rougit, puis reprit:
-Si quelqu'un aime une fleure qui n'existe qu'à un exemplaire dans les millions d'étoiles, ça suffit pour qu'il soit heureux quand il les regarde. Il se dit: "Ma fleur est là quelque part…" Mais si le mouton mange la fleur, c'est pour lui comme si, brusquement, toutes les étoiles s'éteignaient! Et ce n'est pas important ça!
Il ne put rien dire de plus. Il éclata brusquement en sanglots. la nuit était tombée. J'avais lâché mes outils. Je me moquais bien de mon marteau, de mon boulon, de la soif et de la mort. Il y avait sur une étoile, une planète, la mienne, la Terre, un petit prince à consoler! Je le pris dans les bras. Je le berçai. Je lui disais: "La fleur que tu aimes n'est pas en danger… Je lui dessinerai une muselière, à ton mouton… Je te dessinerais une armure pour ta fleur… Je…" Je ne savais pas trop quoi dire. Je me sentais très maladroit. Je ne savais comment l'atteindre, oû le rejoindre… C'est tellement mystérieux, le pays des larmes."

Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Asas


Todos os sonhos, música que enche o corpo, voos que libertam, vozes doces, andar descalço, beijar. Amarras soltas, estrelas como tecto, uma fotografia livre, escrever sério / escrever sorrindo. Amar. Ter um filho que dorme num quarto pintado de azul-sorriso. Pisar a areia da praia em casa e sorrir só porque é verdade. Voar mesmo que ninguém acredite que sim. Acreditar que posso tudo. Soltar a alma como uma gargalhada. Ser feliz.

Prisões

Lendo sobre identidades, quase todos os conteúdos remetem para o despojar e para o anular. Espaços confinados, os asilos, as prisões, os hospitais, as escolas. Regras de modulação do corpo e da alma. Interrogo-me se será diferente do lado de fora. Vem-me um livro à memória, aquele que na minha identidade virtual - o meu eu blogger - está dado como o meu preferido (um dos): The Disposessed.

Cito: "There was a wall. It did not look important. It was built of uncut rocks roughly mortared. An adult could loook right over it, and even a child could climb it. Where it crossed the roadway, instead of having a gate, it degenerated into mere geometry, a line, an ideia of boundary. But the idea was real. It was important. For seven generations there had been nothing in the world more important than that wall. Like all walls it was ambigous, two-faced. What was inside it and what was outside it depended upon which side of it you were on."

Os muros são nossos? São impostos? São assumidos. São conscientes? Um amigo ensinou-me uma vez que todos temos grilhetas, é mais fácil se o soubermos. Outro deu-me um livro a ler: Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser. Tenho-me lembrado dele ultimamente.

E das identidades. Não só por trabalho, trabalha-se para viver - uma das grilhetas? - mas trabalha-se por algo mais forte, procuras (?). Os muros, onde nos situam? Quando educamos construímos muros? Crescemos dentro de muros? Podem-se saltar e ficamos onde, do outro lado, com o mesmo muro, nova face?

Trabalhar identidades é trabalhar o mais íntimo do ser humano, o que o constrói, o que o despoja, o que o destrói. Lembro-me de um filme, Voando sobre um Ninho de Cucos. Lembro-me de tiras de Quino. Lembro-me de um título de Daniel Sampaio, Vivemos Livres Numa Prisão.

Que espaço tem o homem, que espaço nos é dado, que espaço usamos da nossa cela? Tantas perguntas, perguntas para uma vida, perguntas de vida, quando procuramos encontrar um rumo, quebrar o muro que ninguém sabe se afinal é de vidro, passar para o outro lado do espelho, encontrar o mesmo eu.


Anestesiados


Desculpem, mas não me entram nos olhos as crianças da faixa de Gaza e o trânsito da Segunda Circular. Habituei-me a uma gama de valores em que as pessoas importavam, que se lixe o trânsito e os nossos egoísmozinhos diários, os nossos confortos, ao volante de algo que nos leve para onde ganhamos o pão que eles não têm, com mais que uma bola para brincar, com mais que um caixote como abrigo, com mais - muito mais - que destroços na nossa vida. Não sei - nunca entendi guerras, quatro anos a estudar história e nunca entendi guerras - quem tem razão (interessa?). Não tenho a balança da justiça na minha mente, não faz parte das minhas capacidades, analiso caso-a-caso as situações que a vida me apresenta. Mas estes dois da fotografia, abraçava-os com força, hoje terei vontade de bater em quem circula depois de ouvir as notícias do trânsito depois do incómodo das notícias do mundo dos homens.

domingo, 23 de julho de 2006

Pedro e Inês 2


Quinta das Lágrimas.
Ainda há caminhos bonitos a percorrer...

Pedro e Inês

Mas não há forma não há verso não há leito
para este fogo amor para este rio.
Como dizer um coração fora do peito?
Meu amor transbordou. E eu sem navio.

Não há barco nem trigo não há trevo
não há palavras para dizer esta canção.
Gostar de ti é um poema que não escrevo.
Que há um rio sem leito. E eu sem coração.

Manuel Alegre

sábado, 22 de julho de 2006

Tempo

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu nome
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço
- Meu tempo é quando.

Vinicius de Moraes

Horizontes 2

Cabo da Roca, 21 horas, num qualquer dia do mesmo ano.
Os dias têm cores e texturas, os horizontes imensidão.

Horizontes


Cabo da Roca, uma madrugada de 2001. Os horizontes podem ser tão largos...

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Mother and Child

Edward J. Steichen
Mother and child--sunlight, 1906
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Prints and Photographs Division
LC-USZ62-96561 (2)

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Brigadoon

Em 1954, Vincent Minelli Realizou Brigadoon, mais um musical, mais que um musical. O mistério da Europa, os segredos da Escócia, uma comunidade separada 200 anos (fora do tempo) por uma ponte, o amor como ingrediente.

Como tantas histórias - até o ratinho do campo e o ratinho da cidade - perderam-se no tempo as raízes e o sentido, jaz o seu autor, sem nome - não anónimo, palavra de que gosto cada vez menos - mas abafado entre uma raça de homens com imaginação para sonhar e idealismo para extroverter os seus sonhos.

Esta lenda - da ponte, portanto - faz parte de uma série de lendas (medievais?) em que as pontes apareciam e reapareciam. Por amor, sentido lado. Como a de Avinhão, construída até meio por Bénezert e pelos seus pobres mas que ficou sem a metade que competia construir aos ricos para a aproximação dos homens e para que se realizasse a solidariedade pretendida.

Pontes são ligações de tempo, de espaço, de intenções, de homens. São esforços de vidas, quase sempre - raras são as construções que poupam vidas. São arte porque tão definitivas aos nossos pequenos olhos de homens que as pretendemos grandiosas e visíveis.

São em forma de arco-íris, de dia, e de presépio, de noite. São, sempre, em forma de sonho.

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Ternura


Não se descreve, não se explica, assusta porque é inesperada, faz parte de tudo e de nada, atropela... É forte, dá-se e recebe-se. É abraço, amor, paixão, beijo, vida, tudo. Confunde, apavora, procura-se, mapas do avesso, nunca estamos no mesmo trilho? Sempre. Circular? Infinita. Intensa? Claro. O ar que respiramos, crianças, todos, sem idade para encontrar, sempre a precisar de beijos nos dedos feridos ou nas almas. Dói? Sempre. Se é intensa... Vale a pena? Como viver. Sempre melhor, se abraçados.

domingo, 16 de julho de 2006

Morte e Nascimento de Uma Flor

... contou.

João Maria André comentou as palavras...

"É bom sermos de novo pequenos e deixarmo-nos embalar nas asas do vento... É bom tentar aprender com uma semente que o tempo é a casa do nascimento e da morte, e que a memória é o princípio para nos ligarmos a alguém... Aprender que ter paciência é passar o tempo a lutar por aquilo que se deseja, e que "procura", afinal, não é um lugar, apenas um tempo dentro de nós, um tempo onde a morte se junta com a vida para fazer nascer uma flor e dizer que sim ao dia nas curvas de uma canção."

Gonçalo Tavares, as ilustrações...

"Estamos habituados a entrar em sítios onde as vassouras já fizeram o seu trabalho, mas aqui não. Nem tudo na vida está limpo e nem tudo é belo. As ilustrações de Alberto Péssimo desorganizam o mundo e a casa, riscam paredes, chamam a atenção para a parte escura das coisas. Se faz falta esta desordem? Sim, faz. Ilustrações destas são capazes de fazer crianças e adultos lúcidos."

...

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Final de trabalho


Estou-me a sentir assim... Terminado o trabalho sentimo-nos miseráveis e só queremos partilhar o pouco que sobrou de nós mesmos. Vincent sabia o que pintava, embora esta fase mais crua não me seduza tanto como as do sonho. Mutatis, mutandis, das batatas para o pão com queijo, ainda não estou em casa - a casa é sempre um destino, o local do caminho onde paramos, a caminho da partilha. Não tenho touca, mas calças de ganga, não tenho frio mas calor. A luz é sedutora, neste quadro, e apela à paz depois do esforço. O prato comum, à solidariedade. Não sei porque me lembrei destes Potato Eaters, mas deve fazer sentido. Serei a criança que vê, respeita e espera, sem dar o rosto?

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Palavras

"... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras."

Pablo Neruda, Confesso que Vivi

Amigos

É fácil e fluido escrever sobre amigos. Tenho-os grandes e pequenos (talvez todos pequenos). Não confundir com conhecidos ou colegas. Amigos. Aqueles que se podem beijar, a quem se dá a mão, que nos limpam as lágrimas e riem connosco. Os que nos dão e pedem colo quando a vida nos fere, quando caímos.

"É meu amigo" banalizou as apresentações, que sociedade estranha (strangers in a strange land), prefiro parques infantis, histórias de fadas e baloiços. Prefiro uma boa conversa com um amigo de sete anos no messenger, uma memória embalada no colo do meu pai.

Amigos não são família, são A família. Enriquecem-nos, fazem-nos crescer para baixo, à altura das papoilas, mais baixos que o trigo, campos a perder de vista em que meninos se perdem para se encontrar.

Nossos braços e pernas, olhos e sentir, os amigos nunca faltam, nunca falham, nunca são um peso, obrigação, dever, regra. Todos diferentes, tantos, tantos, os que já encontrámos no nosso caminho, os que já não pousam os pés mas a memória no nosso coração, os que nos ensinam, os que nos seguram quando o vento é forte (convém sempre um amigo mais alto).

Amigos podem dormir na cama connosco e acordar a rir. Amigos não têm sexo. Amigos não têm ideologia. Não têm pele nem características. Amigos são tão transparentes que cruzam as almas connosco. Amigos nunca fazem perguntas, dizem e ouvem, abraçam sobretudo.

Ser amigo é uma grande tarefa? Das mais belas. Das mais esquecidas e menosprezadas.

Amigos sabem sempre onde estão os copos nas nossas cozinhas mesmo quando nunca lá entraram. São o sol e a lua, o tempo que não existe, o dever renegado.

Este post foi escrito a pensar nos amigos que a vida me tem dado de presente. Por algum tempo uns - embora a morte não apague a amizade - por muito tempo outros, recentes, descobertos, finalmente, como encontros adiados, outros tantos. Todos tão importantes como o ar e tão puros como a água. Tão raros como uma agulha num palheiro.

E no entanto são tantos ainda para cultivar e para descobrir. Para dizer obrigado a tempo. Para abraçar. Para sermos meninos e meninas de novo sempre que estamos juntos, sempre que estamos longe. Para sermos gente.

Sonhos de piratas e piratas de sonho


Pelos vistos a primeira referência é de Homero, na Odisseia. Mais tarde, o imaginário dos homens do Norte invadindo e pilhando povoações, fazendo reféns. A História está repleta de piratas famosos, de histórias terríveis, de imaginários infantis. Heróis simpáticos portanto, porque corajosos, lutadores, com cicatrizes como crianças caídas das árvores, destemidos como todos gostaríamos de ser (ver o recente sucesso, no mundo dos adultos, do filme Os Piratas das Caraíbas e de Johny Deep no melhor da sua irreverência, romantismo e arrogância).

Edward Teach, o Barba Negra e o terror, Sir John Francis Drake, entre o amor pela raínha e a invencível armada, Henry Morgan e John Rackham, claro, de quem as lembranças de criança e crescidos são demasiado fortes, com a ajuda de Hérgé. Até Camões escreve sobre piratas. Lemos Emílio Salgari, lemos Peter Pan...

Hoje falamos de piratas do ar, quando a insegurança nos assalta em viagem, em pirataria quando os direitos de autor são violados, em rádios piratas, mais descomplexadamente quando somos nós os transgressores, usamos o termo com ternura pelos nossos próximos, travessos, invasores, terríveis de uma forma ternurenta. Dei nome de pirata ao meu filho.

Julgo o termo mais adoptado como suave que como acusador. Sempre amámos a aventura? Drake esteve em Sagres. Bandeiras ao vento, coragem no peito, armados todos em Capitães de Areia, de facto, tristes piratas de água doce, falta a aventura nas nossas vidas. Atrevemo-nos? Como gostaríamos de nos apropriar, heróis em barcos de papel, de tudo o que amamos, de seguir sem medo de lutas, para as Caraíbas, atrás dos nossos sonhos...

Pirata

Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.
Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.
A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Sophia de Mello Breyner

domingo, 9 de julho de 2006

Há que manter o humor


Citizen Dog, por quem tenho uma particular e óbvia predilecção, é da autoria de Mark O'Hare. Entre cansaços, trabalhos, modernidades líquidas e sono, socorro-me sempre de banda desenhada light para manter o espírito em forma. Porque rir faz bem.

Ler para Ver

Todos os dias são um dia novo. Uns olham o sol já alto, outros sentem o sol já quente. Há muitas formas de comunicar com o mundo, o corpo tem imaginação (há mais coisas entre o céu e a terra, portanto).

O Portal Ler para Ver dedica-se à divulgação e debate de produtos, soluções e informações para todas as pessoas, especificamente para pessoas portadoras de deficiências da visão.

Para Ler ou Ver - sobretudo para sentir e fruir.

sábado, 8 de julho de 2006

Cansaço

Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma espécie de fim,
Ou uma grande razão -
Qualquer coisa assim
Como um perdão?

Fernando Pessoa

Penélope


De esperas é feita a vida no feminino. Esperas desejadas como um amor ou um filho. Sentidas, fiéis, intensas, físicas. A relação das mulheres com o mundo é feita assim, ligações fortes, sinceras, desejos intermináveis, fidelidades ilógicas, quase animais. Por isso somos a terra e a lua, o porvir e o sonho. Fazer e desfazer, desconstrutivistas natas, para voltar sempre a construir, racionais de alma exposta às feridas, corpo intensíssimo por onde tudo passa, toda a vida das mulheres é o seu corpo, que, também ele, conta a sua história.

Há doze anos eu esperava, hoje espero. Esperamos sempre sobretudo ser felizes e queremos fazer e desfazer a nossa teia para que nos não apanhem em fragilidade, como se uma teia pudesse salvaguardar a fortaleza e fragilidade de cada uma das suas malhas.

A terra move-se, Penélope ocupa o pensamento e a vida, cuida dos outros e de si, esconde-se e aparece, reflecte e nada sai a não ser sentimento e acção discreta, perguntas escondidas na teia, temível de grande, que terá (terá?) que desfazer para reconstruir (Ulisses, onde?) - tive um filho há doze anos, continuei a tecer, continuo ainda, a vida constrói-se com mãos no trabalho e alma na lua. No feminino. Com amor.

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Seres diferentes


Onde uns são Marta, outros são Maria. Quando nascemos todos temos sinais de individualidade, estigmas genéticos, físicos, sociais. Somos alguém desde a primeira lágrima, impassíveis e impotentes perante um nome e um berço, o mundo distingue Moinhos e Gigantes, não vá alguém ler muito e sonhar demais. Acabamos a calcetar os caminhos que outros pisam. O padrão final só nós o sabemos antes, para todos o dominarem depois de descoberto. Reconhecem-se?

"Tenho sido sempre um sonhador irónico, infiel, às promessas interiores. Gozei sempre, como outro e estrangeiro, as derrotas dos meus devaneios, assistente casual ao que pensei ser. Nunca dei crença àquilo em que acreditei. Enchi as mãos de areia, chamei-lhe ouro, e abri as mãos dela toda, escorrente. A frase fora a única verdade. Com a frase dita estava tudo feito; o mais era a areia que sempre fora.

Se não fosse o sonhar sempre, o viver num perpétuo alheamento, poderia, de bom grado, chamar-me um realista, isto é, um indivíduo para quem o mundo exterior é uma nação independente. Mas prefiro não me dar nome , ser o que sou com uma certa obscuridade e ter comigo a malícia de me não saber prever."
Bernardo Soares, Livro do Desassossego

Quarto crescente


Foco primário de um refletor Schmidt-Cassegrain de 8" f/10 . Copyright © Antonio Caldas

Para mais informações contactar O Mundo da Lua

terça-feira, 4 de julho de 2006

Entre o escritório e a rua

Quando me perguntam a profissão nunca é linear a resposta, fico mesmo atrapalhada, atabalhoada, sem saber o que responder. Ultimamente tenho-me questionado demais sobre o facto, ontem fui confrontada com ele. Recorri a um dos meus mestres...

"Universitária ou não, a história (como qualquer discurso especializado em
busca de notoriedade social) defronta-se sempre com o mesmo problema: o do
trânsito entre o escritório, como lugar de producão, e a rua, como lugar de
recepcão."

Historiadores, meninos de rua, de hoje. Meninos de rua, hoje, a fazer História. Bloqueios, intermediários, imaginários, dispersão, compromissos.

"Em relacão a outros saberes (a física, a economia ou a sociologia), ninguém lhes pede que sejam acessíveis. Que o peçam à história, não deixa de ser significativo do imaginário público que dela
se tem. Ou seja, o imaginário de que "de médico, de historiador (acrescento eu) e de louco, toda a gente tem um pouco".

Como na educação, todos opinamos, colocamos bandeiras à janela nos jogos certos ou errados, sabemos o hino, queremos que as crianças saibam as datas de nascimento e morte dos reis (nunca dos presidentes da República Portuguesa, porquê?). Toda uma sociedade procupada com raízes sem ver onde põe os pés no passo seguinte. Vivemos de imaginários? É uma opção. Tudo não passa de um castelo de cartas.

"Contra o que muitos pensam, a questão não esta no patriotismo ou na falta dele. Está antes no modo como se entende o amor das coisas portuguesas. Ou seja, na capacidade ou não de aceitar que o objecto amado tem claros e escuros, que o amante - neste, como noutros amores - tem que assumir e aceitar."

Sentir e viver a História que nos foi dada e que vivemos, a que fazemos e pela qual somos responsáveis. A História é a nossa Rosa. Cuidamos dela numa redoma, temos cuidados particulares e positivistas com qualquer espirro e sobretudo - sobretudo - defendemo-la como amantes. Historiadores que brincam com a realidade acontecida e com o porvir, compondo, ajeitando, fazendo encaixar as peças. Público que aceita embevecido as explicações convenientes. Pais que necessitam da História para encaixar a prole numa estrutura de valores, mesmo que não saibam quais. A História deveria ser feita de opções de futuro. Será?

Obrigado à generosidade de António Manuel Hespanha ao divulgar trabalhos seus em: http://www.hespanha.net/

sábado, 1 de julho de 2006

Cenas


Para quem goste de Teatro, temos grupos muito bons a trabalhar neste momento. Não sou crítica, não sou especialista, apenas espectadora e admiradora. Mas permito-me deixar por aqui, como sugestão, alguns - bons - espectáculos e algumas referência que já fazem história enquanto nos vão contando histórias...

Fatias de Cá - óptimos espectáculos, criatividade levada ao extremo

Companhia Teatral do Chiado - vejam o site... depois vão aos espectáculos e divirtam-se

Cena Lusófona - editar teatro é corajoso em Portugal

Grupo de Teatro Crinabel - projecto com 20 anos de labor, empenho e qualidade

Teatro Aberto - novas e óptimas instalações, colaboração com YDreams para efeitos especiais

A Comuna - "o que está morto decompõe-se, o que está vivo transforma-se"

Paixões portuguesas

Vês, meu Bébé adorado, qual o estado de espirito em que tenho vivido estes dias, estes dois ultimos dias sobretudo? E não imaginas as saudades doidas, as saudades constantes que de ti tenho tido. Cada vez a tua ausencia, ainda que seja só de um dia para o outro, me abate; quanto mais hão havia eu de sentir o não te ver, meu amor, ha quasi três dias!

F. Pessoa

Não há outro país assim, é a paixão que nos move... Pedro e Inês, Mariana e Simão, Mariana Alcoforado, Florbela Espanca, Fernando e Ofélia.

Portugal é feito de paixões, apropriado o mar perto, o sol quente, os céus benéficos à limpidez da visão e da alma, a terra e as gentes de coração quente e irrequieto.

A motivação, dedicação, criatividade, o sorriso louco e os olhos que brilham, sermos físicos, sermos infantis, sermos doces, sermos loucos, tudo parte da paixão que vivemos e cantamos ou sufocamos, porque queríamos, como bons portugueses, "dizê-lo cantando a toda a gente". Está na nossa História, na nossa Literatura, na nossa Música, no nosso ser, nas nossas vidas. Só não ama quem não é, quem não vive.

Intensos todos, hoje, coração nas mãos. Os portugueses dão a alma e o corpo a tudo o que se aproxime vagamente de um sentir apaixonado. Mesmo um jogo de futebol... E se há lições a assumir em cada dia é que hoje estivémos todos assexuadamente embevecidos por Ricardo - nem Freud explicaria, mas sorriria, certamente...


Precisamos de motivos para caminhar. E os portugueses - felizmente - não andam com pés mas com alma. Por isso, quando queremos muito, somos felizes.

"Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

Vinicius dixit, os portugueses vivem assim...