sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Quem quiser que sinta

Frio e sinais vermelhos - pára arranca pára arranca - vejo um sol de bibe aos quadrados pela mão de um pai a passar entre obras para as bandas do Lumiar, o final dos retratos do trabalho em Portugal versão eixo Norte-Sul, chegaremos mais depressa onde, ele chegou ao colo a um balde de lixo tão sujo que ficou mais verde e quase a sorrir quando o papel de prata do menino que come chocolates com metafísica lá entrou como uma melodia num ouvido carente de harmonias. A mão ousada regressou ao suporte da mão grande-pequena do pai e nem sei quem levava quem mas ficou um sorriso no passeio e o sinal abriu quando se afastavam com o bibe de quadrados azuis e brancos, céu e nuvens, uma mochila que andava sózinha, um desprendimento de acabar de nascer, uma largueza de horizontes de topo de montanha debaixo das pedras, dentro do trânsito, num passeio alterado, com sinais de cuidado e o descuido leve da liberdade de caminho feito com amor como num passeio entre flores e os sorrisos que se semeiam assim nas primeiras manhãs frias. Quem quiser que sinta o frio que cabe em cada manhã e o sol que pode vir com ele quando damos espaço ao importante.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Correr com sentido!


Correm as crianças, correm os crescidos, correm os dias, gastamos a palavra correr e corremos sempre de menos afinal. Correr com sentido existe e foi de uma criança, de um amigo do coração, que me chegou esta mensagem. Quem quiser correr e saber porquê large as rotinas, os comodismos, as apatias e participe, sabendo bem porquê, na Corrida Sempre Mulher.

O cancro é uma doença que ainda ceifa muitas vidas, sem escolher idade, sem escolher momento ou situação. Com possibilidades de ser prevenido nalguns casos, existindo mesmo já vacina para um cancro de origem viral (colo do útero), continua infelizmente a ser um inimigo a combater, um desafio de informação e prevenção, muito e sobretudo de investigação para a medicina.

Perdi o meu avô e avó paternos com cancro. Perdi a minha melhor amiga com cancro. Perdi a mãe de um grande amigo com cancro. Perdi a filha de uma colega e amiga com cancro. E recentemente, o irmão da minha mãe. Tenho o pai de um grande amigo em fase terminal. Parece um percurso que nos acompanha, escuro e doloroso. Façamos dele um caminho de coragem, de homenagem a quem com um sorriso se prestou a estudos e tratamentos para ajudar situações similares, a quem combate pela informação e pelo estudo esta doença que tem a morte agarrada. Façamos um caminho a correr, por uma vez, com um sentido e com um sorriso de esperança.

Porque é na esperança que se constrói vida.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Anima

O que faz falta, cantava o Zeca. Falava e cantava de objectivos de alma, do que nos move, do que é vital para nos impulsionar do sono pesado do cansaço, do stress e dos - afinal tão pequenos ou sempre tão relativos - problemazinhos dos nossos dias. Também dos grandes.

Penso em palavras que me foram escritas, ditas e abraçadas nos últimos tempos. Sinto que não venho aqui há anos e me perdi nalguma nebulosa onde deixei pessoas queridas, onde estive em risco de perder outras, como num pesadelo de crianças em que os medos são edipianos e tudo assusta como uma trovoada de noite com chuva e barulho e visão turva, quem sabe se as trovoadas partem dos corações e há direito a uma por desgosto.

Perdi alguém, sim, próximo, vivi vidas entre um post e outro, perdi o controle e o ânimo em trabalho e deveres outros acumulados e nem um bocadinho para escrever, nem um bocadinho para respirar e comunicar, como um sufoco de sentimentos que me atasse gritos interiores, vontade de vir, falta de alma para dizer o quê, post em branco este, post em branco, quem souber ler que leia, a falta que me fazem estas letras como pássaros que libertam sorrisos e fazem aparecer, daqui a pouco, o sol que aquece.

O que faz falta é o ânimo de se pensar que é tudo mentira e daqui a pouco todos os que desaparecem das nossas vidas regressam e trazem nas suas mãos os outros que foram antes e os caminhos de nós são feitos em conjunto e nunca mais em separado, temos tão pouco tempo e vamos perdendo pessoas como migalhas, não quero ser a Maria da história, não quero pássaros a comerem o rasto da minha vida, não quero perder mais ninguém, quero todos pequeninos e a sorrir, quero tempo de gargalhadas, quero as crianças todas a nascer de novo e os adultos todos mais crescidos que eu.

No meio termo está a segurança de se olhar para dentro e poder não ter medo desta instabilidade. Porém, o meio termo não existe, como a linha ténue a que chamamos presente. Onde está a nossa alma?

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Flowers


Flowers for Algernon


"Tudo é fácil quando se está brincando com a flor entre os dedos
quando se olham nos olhos as crianças,
quando se visita no leito o amor convalescente.
É bom ser flor, criança, ou ser doente.
Tudo são terras donde brotam esperanças,
pétalas, tranças,
a porta do hospital aberta à nossa frente.

Desde que nasci que todos me enganam,
em casa, na rua, na escola, no emprego, na igreja, no quartel
com fogos de artifício e fatias de pão besuntadas com mel
E o mais grave é que não me enganam com erros nem com falsidades
mas com profundas, autênticas verdades.

E é tudo tão simples quando se rola a flor entre entre os dedos
Os estadistas não sabem,

mas nós, os das flores,

para quem os caminhos do sonho não guardam segredos,
sabemos isso e todas as coisas mais que nos livros não cabem
"


António Gedeão

sábado, 1 de setembro de 2007

Casa preta, casa branca

"Canto uma canção sobre uma batalha preparada,

Antiga e imaginada em dias passados,

Arranjada por homens de prudência e inteligência,

Disposta em oito fileiras."


Abraham Ibn Ezrah (1092-1167)