quarta-feira, 30 de julho de 2008

Horário de Verão


Hoje é dia de escrever e de me pensar. De fazer planos e de recapitular. Bom conselho encontrei nesta imagem, aproveito a folga de trânsito e o menor movimento de gentes para encontrar o tempo de ler e de estudar que me falta. Também, o de reflectir. Penso nos dias de verão já corridos e no calor vivido como se o sentisse na pele. Penso no verão que é e no curso de Braille que foi, com o som das máquinas forte, forte, ainda nos ouvidos e as mãos a doer. Nos trabalhos que preparo e nas férias que começo na sexta, sem bem as começar.

Nos fins-de-semana. Nos dias de praia com irmãos mais pequeninos que os sobrinhos, em jogos de King com areia e em serões de esplanada com conversa na mesa e algum café a arrefecer. Penso na areia que a Carlota teve medo de tocar no domingo e nas ondas fortes da maré que regressa e que querem sempre que regressemos com elas e nós a querer ficar.

Ouço os telefonemas de saudades dos que ficam, dos que vão, dos que partem, dos que ainda não foram, como se as férias uma estação de comboio de linhas mais loucas que o Chapeleiro de Carroll e nós com as malas cheias de vidas tão trocadas que nem sabemos se queremos voltar a algum lugar já vivido. Depois as máquinas de roupa como aviões a lavar esperanças e sonhos e empadas descongeladas para um jantar afinal cosy de quem não partiu porque escolheu partir-se e ficar junto.

Sempre gostei do verão. Os dias têm a mania de ser grandes e no entanto alguns bem pequeninos e anichadinhos e meigos que não assustam tanto porque até o por do sol sabe sempre a paz e a lar. É bom chegar ao fim de algo e ao início de outro tanto. Porque hão-de as fronteiras do tempo ser tão impositivas? Veremos se este será um dos melhores verões a recordar, um dos marcantes, um dos que ensinam, dos que não esvaziam. Porque tudo é irreversível, até as estações que nunca são iguais e todos sabemos, porque tal nos ensinaram, e nós o aprendemos, que já nada muda como soía.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Ou então sim...



Há blogs que são sorrisos. Uns porque nos fazem meditar, reflectir, ficar felizes porque lemos um texto bonito e sentido ou pragmático e incisivo. Outros porque sim. Há que blogs que sim. Pelas escolhas de música, pelos poemas que divulgam e que não conhecíamos, pelas ternuras que publicam. Ou só por existirem. Alguns, têm pessoas transparentes por trás. Outros, pessoas que identificamos com um rosto e uma personalidade que bate certo com tudo o que de lá nos chega. E com datas. Hoje é o dia de um dos blogs que visito com mais gosto. Porque sim.

Parabéns, Pyny. E boas férias!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

(A)palavrar


É o que fazemos por aqui. Apalavramos. Ideias e ideais, opiniões mais ou menos fundamentadas, equilíbrios. Apalavramos projectos e conceitos. Apalavrar é bonito, soa a compromisso, mas pode tornar-se vago. Que ética existe pela blogosfera? Somos todos uma bonita transparência, mais rentável que isto é difícil. Começamos por escrever as nossas verdades, depois alimentamo-nos de palavras calibradas, orientadas, quase pedidas. Ousados, ousamos (ousemos).

Apalavrar deveria ser bonito, soa a casamento ou a acordo de cavalheiros, as palavras, afinal, valem o que valem. Quando se cruzam, está o caldo entornado. Quando se repetem, tornam-se óbvias. Perdeu-se a magia? Ou a palavra?

Não o creio. Há males que perseguem a humanidade, um deles é a arte da fuga. Mas a palavra, senhores, é sagrada, honremo-la. O que escrevemos que seja a nossa verdade. Uma verdade apalavrada, temperada, pessoal, criativa. Mas de palavra, palavra de honra, que o virtual não se destina a temporalidades nem a certezas, mas quem o emite é de carne e osso.

terça-feira, 15 de julho de 2008

?




Nunca sei como é que se pode achar um poente triste.
Só se é por um poente não ter uma madrugada.
Mas se ele é um poente, como é que ele havia de ser uma madrugada?

Alberto Caeiro

domingo, 6 de julho de 2008

Precious

Foi um livro e depois uma cor. O Hobbit tinha consigo um anel e dois nomes, Tolkien e Ralph Bakshi. E uma data: 1978.



Muitos anos depois, os homens da terra média construíram outro filme que não quis ver durante tempo a mais. Nestes dias em que pouco escrevi, em que pouco viajei, encontrei outro Gandalf e outro Frodo, outras paisagens do Shire, outras batalhas de cores menos vermelhas mas não menos belas.

A história, como uma paixão, fala dos homens e das causas, fala de nós e do que de nós lá quisermos rever. Fala de ambição e de humildade, de coragem, de lealdade, de amor. Fala de grandes e pequenos que se unem e desunem, fala de gente diferente e de gente especial e ainda de gente que se esqueceu de ser gente. É, talvez, uma história que fala muito bem da eterna história dos que ousam ser homens.

Com menos vermelho e menos sombras, sem o sobressalto do livro que é, ele mesmo, uma procura, revivi a história do anel poderoso que derrete ao calor do esforço, do idealismo e da coragem.

Precioso é o intangível, obviamente.