sábado, 18 de setembro de 2010

Outono

Prematuro, inesperado, com nuvens discretas e sistemáticas, polidas, rosas e brancas, acinzentando-se para o final em grandes gotas de chuva, lágrimas despejadas na terra seca do Verão de outras paragens. Molhou-me as memórias fotográficas de um ano corrido em aeroportos e lutas com folhas e ideias e ideias de folhas outras, ainda no porvir da escrita. Um vestido de flores pequeninas e um cego com dois dentes na Piazza Duomo. Uma Alice por idioma. Um nonsense sistemático em perseguição de qualquer coisa que se possa chamar uma vida. Pensar em coisas boas, pensar em coisas boas. O sorriso de gato na cara do meu filho sob a chuva de Edinburgo, uma noite a cair teimosamente na praia que não queríamos deixar às gaivotas, mais longe ainda, as bolas de berlim vendidas em folha de lata pela Lurdes e a mãe sempre a pentear-nos as ideias mais remotas e a sorrir com o sorriso que o pai adora. Outros finais de dia, outros Outonos. Vou visitar o seu sorriso persistente e encontrar nele o sol que hoje falta, o calor que começa a fugir pelas pastas da escola, a força de ter força mesmo quando as nuvens mais pequenas trazem tempestades ciclópicas.