terça-feira, 23 de agosto de 2005

Violinos no Telhado

Quem viu o filme com Topol, lembra-se da associação do violinista no telhado à forma como muitas vezes temos que levar a vida: tentar extrair dela as mais harmoniosas harmonias enquanto tentamos manter o equilíbrio. A geração que ronda os 40 - a minha, portanto - está entre buracos de telhas, com um lado da casa a arder e do outro, no chão, há neve fria.
Temos pais para cuidar e acarinhar. Temos filhos para educar. Temos relações para equilibrar e para nos equilibrarem. Temos trabalhos que nos consomem e nos apaixonam. Temos estudos e progressos e leituras em atraso.
O tempo não chega para uma vida levada a sério.
Em conversa com alguém muito meu amigo, defendi que devíamos ser interventivos e lutadores, enquanto ouvia que devíamos entrar em equilíbrio e nos deixar levar. Não concordo. O equilíbrio, como a felicidade, como sempre me disse a minha Mãe, está dentro de nós. Interessa saber o que fazemos com eles. Porque num final, haja ou não outras vidas, haja ou não uma consciência do caminho percorrido, claro que faz toda a diferença saber que mudámos o mundo.
Gosto de ser transparente, mas não insípida. Gosto de lutar pelo que quero, embora por vezes tenha que procurar o que realmente quero e os objectivos e prioridades se vão alterando obviamente ao longo de cada momento, de cada passo.
Sim, para mim é claro que devemos ser intervenientes e não mais um grupo de anestesiados-pseudo-felizes-e-socialmente-correctos. Deixar a corrente puxar o nosso barco ao sabor de sonho algum não é viver. Viver é agarrar os remos e tentar, nos limites da nossa força e dos nossos condicionalismos e das nossas falhas, atingir objectivos concretos e úteis.
Ser inteiro.

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Amigos

É bom acordar e saber que uma mão nos vai limpar as lágrimas, pôr um penso na alma. Tantas vezes já recebi essa graça que há uma fé que cresce em cada queda, em cada viragem. A fé no ser humano bem formado, afectivo, generoso, no amigo, no amor, na paixão, seja no que for que nos acontece de bom em cada esquina e nos ensina a crescer de forma positiva e autónoma, sem prepotências tolas nem orgulhos.
O elo que liga os seres humanos e desenvolve o que nos apraz chamar de civilização, modelo primeiro de criatividade e de identificação do ser pensante, é esse mesmo que sai do coração de um para o outro, que dá a mão, que ama, que beija, que não pensa em si mas em quem tem presente no seu acto de formar.
Tenho muitos amigos que todos os dias me formam, ensinam e defendem. Por todos eles nutro uma paixão irracional porque são seres excelentes, excepcionais, moldes únicos. De todos e de cada um deles depende a minha paz, a minha estabilidade. Todos, ao contrário do que se diz, são insubstituíveis, no papel que quiserem e lhes for dado tomar em cada dia na vida desta pessoa que conhecem e amam, que não tem vergonha de ser e dar e crescer.