terça-feira, 10 de junho de 2008

Corridas

Pelas notícias de hoje, fosse eu criatura de senso e teria passado a manhã a encher o depósito do carro e a dispensa. É certo que tudo está inflaccionado e que a vida não está fácil para a raça dos trabalhadores. Mas será correcto este movimento preverso de desinformação e consequente pânico consumista?

Serei certamente ingénua. Mas não me parece que o reabastecimento de Chocapic e de gasóleo me dê mais conforto ou autonomia, sobretudo não resolve questões económicas nacionais que devem ser pensadas.

Correm hoje, os portugueses, entre praias, bombas de gasolina e supermercados. Nem têm tempo para pensar se são felizes ou se podem remediar problemas nacionais ou supra-nacionais votando mais vezes e sobretudo votando mais esclarecidos. Porque os quadros directivos desta empresa em que nos albergamos são eleitos por nós. E corremos para todos os lados consoante o vento e as notícias frescas, sabendo, esclarecidos, que não é a raça que se celebra hoje, sacudindo as bandeiras nacionais por causa de um campeonato em que queremos ganhar mais que competir, ficcionamos participações e liberdades, activismos e causas.

Faltas? Só se for de senso. A minha raça, se o conceito existe, é a humanidade. Não sou superior nem inferior a ninguém, os meus padrões de avaliação não são comparativos com características físicas ou nacionalismos baratos, centram-se em mim mesma e nos meus valores.

Em tempo de crise trabalha-se mais. Em tempo de prepotência prepara-se a mudança. Não me parece que correr na direcção do nosso umbigo nos salve ou redima de algo. Nao me parece sobretudo que correr nos encaminhe na direcção de soluções que residem em nós mesmos.

Vivemos entre anacronismos e ficções. Quem cuida do nosso presente?

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