sábado, 29 de maio de 2010

O não-lugar donde não chego a (v)ir.

Tempo escuro, a chuva que há-de vir acorda-me antes do seu próprio som. De partida sem chegada da paragem anterior, o que é um mês senão um conceito entre papéis e palavras ecoadas? Quatro semanas colada ao teclado a organizar os trabalhos de Hércules na altura em que fez uma tese e perdeu a aposta. 

Ou talvez não. As flores cor-de-rosa substituíram a casa caiada de branco-deste-lado do casal da quintinha. As construções amontoam-se e fazem a minha janela parecer apertada, falta-me a janela pequenina do avião. Quero ir à Micronésia como Oliver Sacks, estudar a ilha sem cor. Quero perceber os outros do seu ponto de vista mesmo quando a vista é uma ausência. 

Guardo uma camisola mais quente na mala. Carrego a máquina fotográfia, limpo os cartões, movimentos sem percepção, automáticos, como se a mala se fosse formando sózinha até eu estar lá dentro com quem queria levar. A minha mãe perguntou-me ontem se sobrava um cantinho para ela. Claro que sim, Mãe. Claro que sim.

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