quinta-feira, 28 de maio de 2020

Pontos de exclamação!

Durante estes dias dormentes e assustadores, pessoas se manifestaram de formas diversas, partilhando os seus dons e a sua afectividade. Deles destaco Brian May, astrofísico e guitarrista dos Queen e Massimo Bottura, chef estrelado da Osteria Franciscana, em Modena, considerados os melhores dos melhores das suas áreas. Com tanta simplicidade nos abriram as suas casas e ensinaram respectivamente como tocar e como cozinhar, diariamente, durante todo o confinamento. Com paciência, com calma, sem superioridades, com a humildade de quem está a passar pelo mesmo receio, pelos mesmos problemas, com a dignidade de quem faz parte daquela parcela da humanidade que nos faz sentir orgulhosos.
A eles, o meu obrigado. Não que tenha tido muito tempo para ver os directos muitas vezes, mas as que vi fizeram-me sentir em casa de amigos. Pessoas generosas em tempos de crise. 
Como dois sobrinhos meus que partilharam os seus dotes a tocar piano. Como o meu filho que tocou violoncelo, piano e cantou para a mãe nos dias em que lhe pedi, para além daqueles em que ele sentiu disso necessidade emocional. 
A arte, meus amigos, é mesmo um alimento e faz de nós melhores pessoas e melhores humanos. É partilha, é generosidade, é dádiva. Aos artistas que nos ajudaram a sentir melhor durante estes tempos que ainda não acabaram, o meu muito obrigada.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Caderno e lápis

À espera da aula, frente ao computador, auscultadores atentos aos sinais dos outros, microfone atento aos meus sinais, câmara com a luz acesa como num estúdio caseiro de produções alienadas. Caderno e lápis porque gosto de tirar apontamentos à mão, a relação do corpo com a escrita é diversa e a minha mantém-se tradicional, embora utilize muito o computador para trabalhar, 90% da minha informação está em formato digital, mantenho o gosto pela escrita à mão. Noto que perco a capacidade de manter uma letra legível, noto que as minhas mãos perderam a coreografia dos tempos de escola, dos tempos de secundário, dos tempos de faculdade, mesmo, porque só aí se deu a transição de meios. 
Em tempos de distancamento, a aprendizagem e a renovação de conhecimentos não pode, não deve, parar. Por isso daqui a menos de 20 minutos terei a minha aula de duas aulas semanais. Uma formação em cartografia histórica que muito me interessa e muito me é útil para um projecto que estou a iniciar.
Depois, a semana começou... contabilidades, arquivo, digitalizações, arquivo de periódicos do início do século XX, três livros teóricos por acabar de ler. Muitas coisas que não cabem num dia mas que felizmente cabem numa casa com boa vontade para continuar a trabalhar e a estudar (indissociáveis) em segurança. 
Boa semana, fiquem em casa, saúde!

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Dificuldades.

É difícil manter rotinas, é difícil ser consistente nas dificuldades, disciplinarmo-nos quando a vida lá fora parece tão impossível de disciplinar, tão imprevisível, mesmo quando se lembra de deixar de ser vida. 
O sono desregrado, levanto-me cedo e começo a rotinar a minha vida possível, organizo trabalho, terei uma aula dentro em pouco, logo terei Tai Chi, o dia passará a correr, estas semanas têm passado a correr, o contacto pouco, só com as pessoas da casa, entregas, lojas de primeira necessidade, pouco mais.
Três projectos de investigação são agora a minha linha de trabalho: um ainda muito de início, outro destinado a publicação e o terceiro de longo termo. Para além disso três seminários que são projectos de conjunto e que continuam, indiferentes às paredes que os contêm. 
Farei anos um pouco mais tarde neste mês de Maria. Confinada, confinados, aguardando a subida de contágios de Maio, não quero que o meu mês seja mais um mês de luto, no dia dos meus anos fará um mês da morte do Brian. Pôr as caras nas estatísticas, humanizar, talvez seja a única forma de consciencializar tudo isto que nos rodeia, tudo o que nos isola e sufoca, por muito privilegiados que sejamos nas condições em que o estamos a passar em Portugal. Alguns disparates à parte, de forma geral tudo tem sido relativamente bem orientado. No total,  poucas vítimas - poucas? - desta pandemia que nos retorna a tempos medievais de isolamento e silêncio. 
Falamos sempre baixo quando não queremos que a vida nos oiça.