Tenho a colaboração, na gestão da minha casa, de uma senhora ucraniana. Privilégio, porque qualquer colaboração no nosso espaço íntimo é positiva na medida em que nos alivia de trabalhos extra e permite - sobretudo em anos de estudo e trabalho acrescido - algum tempo de qualidade para nós próprios. Privilégio, porque não é todos os dias que se encontra alguém amigo. Privilégio, porque ter uma pessoa amiga, culta, simpática, carinhosa, a partilhar o nosso espaço pessoal e a dar-nos lições de vida, limpar-nos as lágrimas, falar-nos de terras distantes, de outras culturas e vivências é fantástico.
O profissionalismo com que os emigrantes de leste encaram cada uma das tarefas que fazem é fabuloso. A competição é impossível. As qualificações muito superiores aos trabalhos exercidos em Portugal não os tornam soberbos ou desleixados, mas dedicados e perfeccionistas. Lição número 1: se nos empenharmos em tudo o que fazemos, mesmo na mais ínfima tarefa, estamos a dar à vida uma correspondência total.
A minha colaboradora merece ser feliz. Julgo que o é. Em circunstâncias familiares e culturais que não sei se eu própria ultrapassaria. Chama fofinho ao meu filho, abraça-o, traz-lhe chocolates e mimos. É minha amiga.
E a poesia está aqui. Porque é poeta. E não trouxe livros consigo. E a sua formação académica se concretizou em russo, ucraniano e alemão. Por isso, vários amigos andaram à procura de poesia - bendita internet - e agora tem o que ler. Devia Portugal ter mais estruturas para que quem vem se sinta em casa. É uma casa portuguesa? Temos tradição de bem receber. De mimar e apoiar quem foi mal tratado. Mas pensamos em detalhes como sejam a manutenção de estruturas culturais apropriadas para que espíritos bons, doces e criativos se mantenham acesos?
Já sei dizer bom dia e adeus, grande e fofinho. Ela sabe falar uma amálgama de português, escolhendo as expressões com carinho e de forma apropriada, usando muitas, muitas metáforas, poeta desenraízada, poeta sem gramática, alma toda no que diz, no que agradece sempre por mais um dia, por parar e tomar um café e fumar um cigarro e conversar sobre tudo e nada.
Poesia de leste, vinda nos olhos claros de uma mulher - mais uma - igual a nós, portuguesas, que tem de diferente apenas a alma doce, doce, que fala poesia em russo traduzida por gestos e palavras empilhadas com arte, descuidadas, deixando cair expressões belíssimas que tanto tempo demorariam a combinar a quem licenciado na língua de Camões as procurasse.
Poesia russa. Para aprender, mesmo em português. Recomenda-se.
O profissionalismo com que os emigrantes de leste encaram cada uma das tarefas que fazem é fabuloso. A competição é impossível. As qualificações muito superiores aos trabalhos exercidos em Portugal não os tornam soberbos ou desleixados, mas dedicados e perfeccionistas. Lição número 1: se nos empenharmos em tudo o que fazemos, mesmo na mais ínfima tarefa, estamos a dar à vida uma correspondência total.
A minha colaboradora merece ser feliz. Julgo que o é. Em circunstâncias familiares e culturais que não sei se eu própria ultrapassaria. Chama fofinho ao meu filho, abraça-o, traz-lhe chocolates e mimos. É minha amiga.
E a poesia está aqui. Porque é poeta. E não trouxe livros consigo. E a sua formação académica se concretizou em russo, ucraniano e alemão. Por isso, vários amigos andaram à procura de poesia - bendita internet - e agora tem o que ler. Devia Portugal ter mais estruturas para que quem vem se sinta em casa. É uma casa portuguesa? Temos tradição de bem receber. De mimar e apoiar quem foi mal tratado. Mas pensamos em detalhes como sejam a manutenção de estruturas culturais apropriadas para que espíritos bons, doces e criativos se mantenham acesos?
Já sei dizer bom dia e adeus, grande e fofinho. Ela sabe falar uma amálgama de português, escolhendo as expressões com carinho e de forma apropriada, usando muitas, muitas metáforas, poeta desenraízada, poeta sem gramática, alma toda no que diz, no que agradece sempre por mais um dia, por parar e tomar um café e fumar um cigarro e conversar sobre tudo e nada.
Poesia de leste, vinda nos olhos claros de uma mulher - mais uma - igual a nós, portuguesas, que tem de diferente apenas a alma doce, doce, que fala poesia em russo traduzida por gestos e palavras empilhadas com arte, descuidadas, deixando cair expressões belíssimas que tanto tempo demorariam a combinar a quem licenciado na língua de Camões as procurasse.
Poesia russa. Para aprender, mesmo em português. Recomenda-se.
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