terça-feira, 18 de setembro de 2007

Anima

O que faz falta, cantava o Zeca. Falava e cantava de objectivos de alma, do que nos move, do que é vital para nos impulsionar do sono pesado do cansaço, do stress e dos - afinal tão pequenos ou sempre tão relativos - problemazinhos dos nossos dias. Também dos grandes.

Penso em palavras que me foram escritas, ditas e abraçadas nos últimos tempos. Sinto que não venho aqui há anos e me perdi nalguma nebulosa onde deixei pessoas queridas, onde estive em risco de perder outras, como num pesadelo de crianças em que os medos são edipianos e tudo assusta como uma trovoada de noite com chuva e barulho e visão turva, quem sabe se as trovoadas partem dos corações e há direito a uma por desgosto.

Perdi alguém, sim, próximo, vivi vidas entre um post e outro, perdi o controle e o ânimo em trabalho e deveres outros acumulados e nem um bocadinho para escrever, nem um bocadinho para respirar e comunicar, como um sufoco de sentimentos que me atasse gritos interiores, vontade de vir, falta de alma para dizer o quê, post em branco este, post em branco, quem souber ler que leia, a falta que me fazem estas letras como pássaros que libertam sorrisos e fazem aparecer, daqui a pouco, o sol que aquece.

O que faz falta é o ânimo de se pensar que é tudo mentira e daqui a pouco todos os que desaparecem das nossas vidas regressam e trazem nas suas mãos os outros que foram antes e os caminhos de nós são feitos em conjunto e nunca mais em separado, temos tão pouco tempo e vamos perdendo pessoas como migalhas, não quero ser a Maria da história, não quero pássaros a comerem o rasto da minha vida, não quero perder mais ninguém, quero todos pequeninos e a sorrir, quero tempo de gargalhadas, quero as crianças todas a nascer de novo e os adultos todos mais crescidos que eu.

No meio termo está a segurança de se olhar para dentro e poder não ter medo desta instabilidade. Porém, o meio termo não existe, como a linha ténue a que chamamos presente. Onde está a nossa alma?

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