sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Mudanças

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.


Luis de Camões


Certamente que não nos banhamos duas vezes na água do mesmo rio. Bom é pensar no bom que houve e não esquecer o mal pelas razões certas (não acredito nessa história de se aprender com o mal, acho sobretudo que se deve aprender a evitá-lo, não forma o carácter, por vezes destrói-o).

Teorias de Maria que não valem um chavo. Tempos de mudança, tempo que muda quando olho pela minha janela, quando inicio uma nova fase dentro de uma fase comprida demais da minha vida, que me marcou porque nada escorre por nós como água. Alterou-se a paisagem da janela do meu quarto, a mesma que fotografo sistematicamente porque gosto de rever a passagem das estações, o cultivo dos campos, medir o trabalho dos homens no mundo - quanto tempo ainda o velho moínho a ronronar com o vento, na cor de cobre que o dias lhe deram?

A chuva alterna com um sol que agora aprecio, emoldurado por nuvens coloridas e imprevisíveis. Mudar não nos acontece, como um sol que se põe ou que acorda. Mudar envolve-nos e, como diz o sábio poeta, de cada vez a mudança parte de um terreno diferente porque se baseia na pessoa que somos e que todos os dias cresce. Com esperança de manter a criança no coração e remar eternamente com desejos de descoberta. Para lá da mudança em torno, instaurar dentro de nós a mudança que queremos e ser-lhe fiel até à curva seguinte do caminho.

Sem comentários:

Enviar um comentário