Em desfado, em demanda de outras eras, de outras sortes, uma gaivota grita na minha janela recados de um além ou de um porvir porventura esquecidos ou fantasiosos. O mar, essa força, essa potencia, que nos leva o pensamento gelado para uma corrida defensiva de um quotidiano fácil. O mar, que recua se avançarmos ou que nos pode arrastar se lhe virarmos as costas em desrespeito, que o destino fada os incautos a desgraças certas e mesmo os cautelosos não estão livres dessa prisão do imprevisível. Grita a gaivota e foge ou regressa, conforme eu lhe diga adeus ou a acolha como uma dor maternal aceite pelo processo de estar que compete aos vivos. Ouço-a e estou grata pela maioridade das minhas memórias e pelo mar que me puxa e pelas gaivotas que me fazem levantar a cabeça. Mesmo, sobretudo, hoje.
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