terça-feira, 11 de março de 2008

Antes de amanhã

— "Dorme: se os pesares
Repousares,
Vês? — por estes ares
Vamos rir;
Mortas, não; festivas,
E lascivas,
Somos — horas vivas
De dormir. —"

Machado de Assis


Calo o sono que me aconselham e endoideço as palavras que me cercam como folhas soltas num monte em que devia repousar. Quem pintou onde me encontro? Tinta de cansaços, sem cheiro, tarda a manhã e vigílias são glórias ocultas. Quem sabe um raio de sol para espantar o escuro e os olhos rejeitados. Quem sabe um espelho onde a luz fraca deixe de ser artificial e aconteça. Não me parece a boa disposição no dia que ainda não foi parido. Julgo que mais um cinismo de deixar fluir as horas acontecidas contra os ponteiros, afinal no hemisfério norte a água esvai-se na direcção de sempre, os nós de gente passiva dormem e eu escrevo contra mim.
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Espero o futuro num banco de jardim sem que os pés toquem o chão, esperamos o futuro sempre em forma de crisálidas, esperaremos o acontecido virando a cabeça na estrada até doer?

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