quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Cão que ladra!


... não morde, dizem, mas incomoda muito. Ladra o cão por razões várias e, também, por razão nenhuma. Porque lhe apetece, porque não tem mais que fazer. Para chamar a atenção ou o dono. Porque passou outro cão. Porque é de noite e ouviu um barulho.

Ladra-se, então, por medo e por coragem. Porque se quer dizer alguma coisa (mas o ladrar não é idioma, é mais tipo apelo). No caso do cão, apelo à comida ou às festas. No caso do cão sem tino, ladrar é mais tipo vocação, perdeu o tino porque perdeu o Norte. Mas não a voz.

Ladra-se porque se quer refilar ou com saudades que refilem connosco. Todos gostamos de ser orientados. É mais fácil que orientar. E bastante preferível a esperar. No fundo ladramos porque insatisfeitos com a ausência de adversários que nos animem ou com a falta de motivação em nós mesmos, ladramos sempre, sobretudo, porque não encontramos o que procuramos, mesmo que seja a paz que perdemos.

Todos os motivos externos são bons para ladrar. E ladra-se porque se sabe muito bem que não há razão nenhuma para morder.

O cão desta história existe no cantinho de nós, pelo menos de mim. Ouço-o ladrar quando tenho medo ou quando estou perdida, esquecendo-me que parte das vezes em que me perco é porque simplesmente não estou a olhar para onde devo. Ora se olhamos para os pés ou para o umbigo a perspectiva do caminho fica difícil...

Melhor ladrar quando o dono está que quando dorme. Porque as festas também se merecem. E a persistência e a atenção fazem parte de se ser feliz. Pelo menos, são as qualidades que nos encaminham. E para guiar, convém saber ser guia.

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