Tenho estado desde o fim-de-semana a imprimir Braille. Para chegar aos dedos, a informação passa por estádios diversos, como uma esperança de sucesso...
Primeiro tem que ser tratada e adequada aos seus destinatários. Há descrições que podem e devem ser alargadas e específicas, sobretudo as que falarem das impressões visuais ou descreverem imagens anexas ao texto que acompanham. Há palavras a limar, há descrições visuais explicadas por metáforas também visuais que são redundantes e não têm qualquer significado. É apenas um saudável exercício de nos colocarmos no lugar do outro, aquele exercício de sair do nosso espacinho protegido e aprender a comunicar sem ser para nos vermos ou ouvirmos. É um reaprender a ser e a dizer mais completo, sem amarras ou subsídios à comunicação parcial ou em voga.
De resto, nada mais de complicado, excepto estar em linha de produção com três impressoras - uma produz o harmonioso ruído de 80 decibéis (nos dias de boa disposição). E unir texto em braille, imagens relevadas e cor, para que o conjunto - neste caso específico- posso ser do usufruto de grupos de pessoas com várias capacidades e incapacidades ligadas ao sentido da visão.
As palavras são manhosas: uma capacidade é uma potência, uma eficiência é um exercício. Usualmente não me perco pelo dicionário politicamente correcto, gosto de gastar o meu tempo por caminhos mais capazes, uso termos directos e relativamente consensuais quando falo de pessoas, mas sobretudo tento falar de pessoas e não dos seus olhos, pernas, braços. Porque a nossa identidade é composta mas ultrapassada pelas suas características.
Penso no barulho que uma das impressoras faz neste momento em que escrevo, a chamar-me para ir ordenar e encadernar os exemplares, revê-los (deve-se rever o Braille, de repente salta uma gralha, de repente salta uma misturada de códigos).
Ficam bonitos os livros de sentir...
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