É preciso embalar os dias sofridos, deixa-me passar a mão nos teus cabelos enquanto não ganho a coragem de cantar. Deixa-me sonhar com os passeios no mar da madrugada, com a árvore grande do Príncipe Real, com a senhora com o papagaio no ombro na feira. Ouve, ouve comigo - fecha os olhos, amor - o chiar alegre dos baloiços com pares de pézitos medrosos do chão a pedir colo. Sentes o mar das ondas grandes? O mar que gostas mais, o teu mar do Guincho? Passarinhando pela berma da praia como se a não pudéssemos pisar. Em bicos de pés pelas rochas como se mundo pudesse acordar e todos os sonhos ruírem logo, logo.
De mansinho, de mansinho, como canta o menino da voz bela que ama estrelas como nós. Há mais pessoas assim, sabias? Que não levam o mundo demasiado a sério, só um bocadinho, só o bocadinho importante de nós. E depois, há o amor, essa palavra furiosa, fera, que rasga o acontecido e o lança na rua aos gritos como o louco, sabes, aquele que mora na esquina da rua dos meus pais.
Queria ser mais louca ainda para te seguir em cascata, queria que me entendesses os gritos e entendes, queria que me abraçasses e abraças, mas agora, anjo, agora mesmo, como se o teu peito o meu porto e todas as canções.
Agora penso-te, esse ti que eu inventei e existe, existe, os grandes não sabem, mas existes, existem os tis em que as crianças acreditam. E têm caracóis.
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