segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Para Regensburgo, com humor

Ontem procurei dar a melhor atenção possível a Maria de Lurdes Rodrigues. Não fui capaz. O cargo é ingrato, é para queimar, mas a senhora não cativa. Tem um eterno ar de infelicidade como se acabasse em cada minuto de ler estatísticas para em seguida as citar, apagar e reiniciar o ciclo. Ontem ouvi também que José Nuno Pinto da Costa vai ser indemnizado pelo Estado Português. O Estado Português? Nós fazemos parte da coisa, certo? Eu cá não indemnizo ninguém que alterna entre mafiagens futebolescas e amores pagos a crédito. Não sei porque será este nome tão conhecido na praça pública, cuidei que era por mérito que as pessoas nos lembravam.

Terrível, o telejornal de ontem, aliás o zapping entre telejornais. Até porque as coisas boas que acontecem no nosso país da educação e que não são da responsabilidade directa da supra-citada senhora não são notícia. Ora neste momento temos umas quantas crianças a caminho do seu segundo dia de escola, alguns mesmo com vontade de trabalhar, contra ventos e tempestades. Temos igualmente alunos do ensino superior a progredir com os seus estudos enquanto trabalham, nada há de mais bonito e mais esforçado que estudar e trabalhar, tenho sério apreço por essa raça autóctone dos trabalhadores-estudantes, a qual integro humildemente desde que me conheço. Trabalhar para ganhar o sustento e para ganhar recursos para se sustentar o eterno processo de aprendizagem. É bonito. Mas não se fala disto.

Li nestes dias um livro, ofereci-o também, é um livrinho-emoção portanto, um objecto que para mim já tem uma historinha, que extravasa o seu conteúdo, por sinal bastante bom. Foi uma recomendação de alguém que sabe das artes de pensar, de uma amiga que muito prezo, que passei a duas pessoas especiais demais para mim, que acabei por procurar para entrar capa e ideias a dentro e que tem feito as delícias das minhas tardes numa leitura de conjunto com o meu filho. Platão e um Ornitorrinco entram num bar...

Penso nas questões de forma e de conteúdo, penso nos preconceitos pseudo-intelectuais sobre livros de grande divulgação e auto-ajuda, penso neste livro se tivesse uma outra capa, com esta sempre escapou, tem ar de livro de pensar, tem ar de livro sério, se tivesse uns bonecos e a capa branca podia ser como aqueles Manuais para Compreender os Homens ou Porque é que as Mulheres não sabem ler mapas ou talvez o Monte Cinco, um livro prodigioso de que só li uma página. Este li-o todinho e estou a reler com atenção. Seguiu um exemplar para Regensburgo, numa mala de estudante, será processado em laboratório e manterá a dignidade da língua portuguesa que, à falta de melhor serve de Pátria, em paisagens danubianas e três meses de muito trabalho.

Esforçados, somos um povo esforçado. Sabemos o que queremos, nunca se deve tomar a nuvem por Juno. A passividade pode ser uma espera. O que sempre é, convenhamos, inteligente.

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