segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Animal aflito


Ai que útil definir, que bem nos definiu Gedeão, que tanto baralhamos o mundo e nos baralhamos no tempo. Hora daqui, hora dali, nem outras oras nos libertam, que vivemos descrentes de nós. Passei o dia a acertar e a desacertar relógios. Relógios-relógios. Relógios com funções de relógios. Relógios de parede. Relógios de pulso. Relógios-anexos. A telefones. A computadores. De tal forma acertei e desacertei que o tempo tomou conta da minha casa e do meu dia e me perdi, guiada e baralhada pela luz da tarde.

Não sei que fazemos de nós com tantas artificialidades conduzidas por automatismos. Não sei porque deixamos que os Grandes Irmãos (não concebo um único, sou uma politeísta das desgraças) nos invadam desta maneira e as tecnologias os retorçam e nos torçam nos humildes esforços de nos mover no pouco espaço de vontade que achamos que nos sobra.

Afinal, nada sobra a não ser um crasso erro. Roubam as nossas produções intelectuais sem backup. Lemos emails de protestos mal humorados sobre quem brinca com as coisas nossas. Rimos com mais uns Gatos, mesmo publicitados mais que a conta, apesar de tudo em crescer de qualidade dentro de um humor que nos habitua seguro. Reconciliaram-nos com as horas, já certas no final do dia, de juntar a família e os amigos para ver e comentar uma pequena emissão televisiva. Há muito tempo que não revivia esta experiência. Louvados sejam mais a sua ironiazinha chegada a tempo e horas de longo Inverno. Sem censura.

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