Claro que a gripe ajudou, mas o cansaço das gentes em volta é muito, os carros em perseguição e as crianças a sair para férias, a correr, a correr. As aulas, nem por isso, tudo longe de onde devia, eu sem rumo e sem dono, chegou um livro importante (Vivre sans Voir) e quero lê-lo. Nem por isso me apetece jantar, um chá e uma bolacha, acabou o chá que eu gosto mais, a casa está fria, deixei o dossier no carro. Com o acordo ortográfico terei deixado um dossiê? Não sei o que deixei de mim lá fora mas foi muito. Constipada não posso ir aos meus pais e tenho saudades. Vou-me deitar para me levantar noutra aula e não há férias de Natal para os crescidos. Talvez eu não me tenha feito entender quando me inscrevi: não sou uma pessoa crescida. Tenho medo dos filmes como se as pessoas fossem verdadeiras (lembro-me sempre dos conselhos do meu Ricardinho) e no escuro nunca ninguém adormeceu em paz. Por outro lado é no escuro que encontro a serenidade de parte dos meus amigos e oriento-me bem nele, mas é o meu escuro, o escuro familiar, onde tudo tem um sítio e as mãos tocam em todas as cores. Hoje estou com gripe até à alma e as palavras doem. Lembraram-me o meu poeta querido, o nome não saía, a mim lembra-me sempre o nome, António, António, António José Forte. "Hoje é um dia reservado ao veneno e às pequeninas coisas". Pois é. Há dias com gripe. Vou anoitecer de vez, que hoje preciso. Até o disco do Requiem está com problemas. Talvez amanheça num sorriso qualquer ou me desconstipem a alma. Se me é permitido inventar palavras...
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