domingo, 21 de dezembro de 2008

Quadra sem palavras

Era uma quadra sem palavras, recheada de ideais. Depois vieram os homens. A quadra tinha sorrisos e beijos embrulhados em fitas vermelhas, como papoilas nas mãos de gaiatas.

Era a quadra um tempo e nele corriam sonhos. Nevava, talvez, nalgum lugar. Noutro, os amantes beijavam-se, outra vez a primeira. Mais além, um sorriso fugia de um gorro de criança e subia aos ninhos dos pássaros dormidos.

Na parede da casa crescia a hera e nós, como ovelhas de um presépio de Janeiro, corríamos pelo jardim baralhando o tempo e as leis. Nada era mais proibido que crescer e a única bebida chocolate quente.

Longe do mundo, todos podem ser felizes. Longe do mundo, nos mundos pequeninos sem mais que nós crianças aos gritos de dentro por mais um Verão.

Cedo nasceria um menino que só conhecíamos de barro. E em seu respeito corriam os passos mais devagar, como a hera a subir das raízes para o céu.

Em pouco tempo chegariam grandes pessoas, com anos a mais depois de terem sido um bocadinho nós. Mas isso não nos baralhava. Importante era manter na quadra as não-palavras que se sentiam quentes e rimavam com risos.

Mais tarde a estrela e todos já sabem. Embora que só nós a hera e as fitas vermelhas e os pássaros sorrindo, só nós, até hoje.

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