Dançam o vento e o sol, está frio, que inverno longo, que pouca vontade de sair, que vontade de voltar a mim, tanto que escrever e os dedos presos, a chávena quente parada a olhar-me, incrédula, a janela abafando os sons do mundo, eu, aqui, sem me querer ser.
Ligo o aquecedor e penso no verde que me cercava em pequena e que agora longe. Ao fundo da minha janela a luz aumenta e um pouco de mar, um pouco de serra, alguém que passa, o velho moínho que geme por mim.
As nuvens correm menos, agora e espero que o tempo modere nos relógios porque não consigo acertar o velho despertador do Pai e faz-me falta o tic tac certeiro que alinha pensamentos e objectivos, um tic tac quase cardíaco, seguro, sereno, suave.
Mudo dos óculos-de-ver-ao-perto para os óculos-de-ver-ao-longe. Passaram alguns anos desde as cabanas de juncos e Maître Corbeau e as rosas em braçadas e ser tudo natural como sorrir, escrever, pintar, tocar, ler, cozinhar, passear, conversar. A sequência que me trouxe hoje aqui, genética e mimética, acelerada e, porém, no compasso certo, e hoje, hoje, hoje mesmo, o dia em que não me aceito porque me faltam os produtos puros do resultado que sou.
Mais vento que sol outra vez. Revoltos como os meus sonhos, os juncos da casa de hoje sobre as memórias de ontem. E eu procuro dentro de quarenta anos os abraços que aqueceram e fizeram sorrir os dias de inverno de cada inverno que passei até este.
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