A Primavera vai longa e os caminhos mudam. O amarelo e roxo é convertido em ouro e vermelho. Venho ainda com os olhos cheios de papoilas, nada consegui escrever. Encharcadas em vermelho as nossas estradas, alentejo dentro, vontade de andar e de sentir as cores. São as flores mais belas porque perecíveis, vivem por ciclos, marcam o tempo, cor da paixão e do sangue, marcas de vida.
Doem-me nos olhos tantas, tanta papoilas que já vi e estas da semana passada que me fizeram parar e sentir que eram iguais às da minha infância, que talvez sejam mesmo as flores mais resistentes porque entraram no imaginário da esperança, estação intermédia entre a angústia e o sonho, e trazem luz aos corações, mesmo aos mais esquecidos de tudo o que viveram.
Papoilas rubras, como os poetas escrevem, papoilas sensuais abandonadas ao vento que as acaricia, sem preocupações de horas ou dias de vida, a reflectir apenas todo o seu vermelho no sol forte, entre casas muito brancas ou campos muito largos.
Seja como for, o Verão está próximo demais de nós. Brevemente os campos serão mais agrestes e secos, o calor mais denso, formando lençóis de luz na estrada. Brevemente os gritos e risos das crianças nas ondas das praias. É agora, sempre, a altura de caminhar, num mundo tão bonito.
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