segunda-feira, 15 de maio de 2006

Dias em que o sol não aquece...

Há dias em que o sol não aquece. Este foi um deles. O estranho é que esses dias nascem como quaisquer outros e são palavras que apagam o calor. É a diferença entre estar numa manhã rotineira, inconsciente, serena e minutos depois ter recebido um telefonema do meu filho a contar-me da morte da mãe de um seu colega e amigo.
Que valor não damos a poder estar vivos. Devíamos sorrir sempre quando olhamos para os nossos queridos, para os nossos amigos, para quem se cruza connosco só pelo dom, pela potencialidade de ser feliz que a vida dá.
O sol deixa de aquecer quando nos confrontamos com lágrimas de crianças que vão - muitos pela primeira vez - a um funeral porque um amigo sofre a perda da sua mãe. Acho mesmo que choveu, que o mundo deve ter chorado e só quem lá estava percebeu.
O nosso amiguinho não chorou. Manteve uma dignidade e uma serenidade impressionantes, tomando conta de um pai desolado que lhe ficou nos braços. Há dois fins-de-semana tinha estado cá em casa. Hoje o mundo dele mudou para sempre. Tão definitivo. Porque é que há dias que são tão terrivelmente irreversíveis?
Cancro de Mama. Já perdi uma grande amiga desta forma, também bastante nova. Continua a ser um flagelo para as mulheres, nem sempre é controlável, mesmo com as possíveis precauções e prevenções.
Perder pessoas ao longo da vida é inevitável. Mas temos o direito de nos zangar um bocadinho com o mundo quando essas pessoas são mães e os filhos ainda estão no princípio do caminho. Quando, num mundo de famílias desfeitas, esta era uma família doce e amiga, cheia de harmonia. Lágrimas hoje, onde tantos sorrisos aconteceram. Espero o dia em que os sorrisos voltem e o sol aqueça por vermos que as sementes de amor que foram deixadas por quem partiu deram fruto num homem digno e bom e justo. Pelo que conheço deste pequenino - desde os três anos, tanto tempo já... - acredito que sim. Hoje, pelo menos, preciso muito de acreditar em algo. Acho que vou abraçar outra vez o meu filho, a aprender a ferros o que custa ser amigo com A maiúsculo. E abençoar a possibilidade que tenho tido, até hoje, de o ver crescer.

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