domingo, 18 de fevereiro de 2007

Pen(s)ar

Pensar é, a cada vez, inventar o entrelaçamento,
lançar uma flecha de um contra o alvo do outro,
fazer brilhar um clarão de luz nas palavras,
fazer ouvir um grito nas coisas visíveis.
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Não, não é um poema, esse está mais abaixo. Ou talvez seja também. Pensar é brilhar... Brilhante Deleuze e brilhante Foucault. Pensar dói e no entanto nunca se pensa demais. Por instinto se leva a vida, mas o que é o instinto mais que a fuga da dor de pensar em tudo, reunir bagagens e memórias, focar a vida no impossível que tanto nos parte. Pensar é criar e não se cria do nada. Não sei se voltamos ao pó, mas dele vimos com certeza, tantas partículas que somos, tantas dispersões passadas e presentes, talvez harmoniosas como um coro, talvez em desavença quando nós. Penso na trepadeira do jardim da casa que me viu crescer como se se mantivesse lá para sempre uma Maria que me sai do corpo e nunca regressa. Mais memórias. Penar ou pensar? Pensar? Há medida? Penso demais ou de menos? Sempre de menos, que a pensar somos gente, o que se pensa de bem foi o suficiente, o que se pensa de mal foi certamente porque pouco de pensamento teve. Viver e doer e no entanto o instinto, que tão rápido nos traz asas e desculpas, batermo-nos por paixão como Cyrano, por nós mesmos, que ninguém nos vai nunca mais segurar os passos perdidos. Crescer tem o seu preço. Pensar também. Mas que preço doce de pagar: estar vivo e ser livre.
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Calculer, avoir peur, etre bleme,
Aimer mieux faire une visite qu'un poème,
Non, merci! non, merci! non, merci!
Mais. . . chanter,
Rever, rire, passer, etre seul, etre libre,
Avoir l'oeil qui regarde bien, la voix qui vibre,
Mettre, quand il vous plait, son feutre de travers,
Pour un oui, pour un non, se battre, - ou faire un vers!
Edmond Rostand, Cyrano de Bergerac

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