Muito se diz sobre o que se não conhece. Em fase de São Adolescente, sinto-me honrada por ter ao meu lado alguém que começa a ter consciência do mundo, opiniões próprias, autonomia. Talvez seja um caso particular o meu, considerando que sei por experiência directa que não é por estarmos ao lado dos filhos que nada lhes acontece. Daí que lhes confesse, em início de post, que detesto quando me chamam mãe galinha ou quando de forma geral analisam a minha postura em relação ao meu filho. Evito fazer essa análise em relação aos outros. Pode magoar e nem temos a noção da floresta em que nos estamos a meter.
Genericamente, a sociedade, esse bicho que somos nós, exige comportamentos padrão, como quando se trata de lidar com os outros tivéssemos um Hitlerzinho albergado na alma, que pergunta pela nossa boca: "porque não fizeste as minhas escolhas?". Raiando o patético... porque ainda não namoras, porque não te casas, porque te vais casar, porque não tens filhos, porque não adoptas, porque educas desta forma e não de outra, porque, porque, porque, desde as opções mais privadas às que transparecem a público, tudo é dissecado como se devessemos ler de manhã à noite livros de auto-ajuda e passar a vida num psicólogo, cidadãos certamente ininputáveis quando não assumimos as opções maioritariamente consideradas correctas.
Mas disto todos temos consciência, afasto-me da minha ideia inicial que era, de facto, contar uma história. É que por vezes agimos por instinto. E se for o amor a orientar esse instinto, pode ser que resulte, mesmo que não venha nos manuais ou nos conselhos assertivos dos amigos.
Mais que proibir, trata-se de orientar, ou seja, dar opções, dar alternativas, mostrar mais coisas, não que saibamos viver melhor aos 40 que aos 14, mas já percorremos mais caminho. Vi portanto com o meu filho dois filmes considerados pesados para a idade dele, violentos, baseados em histórias reais, na nossa história do século XX. Em casa, que gosto de debater o que vejo. E debati. E chegámos a uma conclusão. Que os jogos que os adolescentes jogam online, em que cortam pacificamente a cabeça aos colegas com que vão ter aulas e almoçar no dia seguinte, são identificados a tempo como ficção, as armas caem por terra quando visionada uma história em que se percebe o que elas nos podem afectar directamente como já afectaram - e continuam - o mundo dos homens. O horror que não passa num olhar para uma notícia de telejornal talvez passe em duas horas de filme sobre pessoas que se não tiveram aqueles nomes tiveram outros e tinham pai, mão, amigos, vida e não acharam nada divertido estar a jogar em real num palco de guerra. Também é bom perceber que muitos nem sabiam porque lá estavam e que dos dois lados havia estruturas humanas boas e más (acredito que existe um bem e um mal, embora a fronteira seja em graus de cinzento).
Não é difícil falar com um adolescente. Não estão em fase de ver contos de fadas como ontem tive o prazer de ver com um amigo. Estão em fase de desafio e de conquistar o mundo. Os contos de fadas são eles, se os deixarmos. Abrir a passagem no muro para que vejam tudo e possam criar as suas próprias estruturas com o máximo de informação. Sem censura. Mas com potencial para que criem os seus próprios padrões éticos. Sempre, em liberdade e diálogo.
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