domingo, 30 de dezembro de 2007

Imaginar



"Imaginar, primeiro, é ver.
Imaginar é conhecer, portanto agir."

Alexandre O'Neill


Podem ser necessários dois poetas para nos convencer de um futuro. Imagino assim um pranto novo de dias correntes, mudanças de esgar na corda dos relógios suicidas que nos gerem, fugas sem nexo absolutamente nenhum e desesperanças de nos adiarmos. Ver para além de nós e imaginar na realidade a teia que as nossas mãos trabalham contrariadas. Li hoje que um em cada cinco portugueses vive no limiar da pobreza. Num postal. Na fotografia, alguém que designaremos por pobre encostado a uma parede a descansar do cansaço de aturar raciocínios alheios. Calendas da felicidade editadas minuciosamente e distribuídas com o mais alietório dos estados de espírito.

Agir em conformidade, claro, as datas são relevantes e há as resoluções de ano novo, aquele que chega, aquele que apaga, aquele que permite redimir consciências e revolver vidas como se uns dias contados chegassem para reencarnarmos as vontades que nos faltam em coragem.


Imaginar? Soa-me a canção de idealista mártir. Um em cada cinco. No limiar de quê? Recomeçar? Contemos de novo. Pode ser que dia 1 seja de continuidade, por uma vez que vença a persistência. Leio surrealistas, já não vale a pena ler mais nada. Imaginemos um ano que comece neste minuto. Pode ser que se não parta tanto a vida em contagens inúteis e se comece a construir. O infinito que queremos amar discretamente.

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