segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Rudolfos

imagem de Rudolfo, a rena de nariz vermelho
O nariz vermelho pode ser do frio. Para indicar caminhos não me parece, que não andamos muito orientados. O imaginário é doce e levemente preverso como tudo o que não é genuíno. Sumariamente, carregamos com o trenó, levamos os privilégios de outrém, alombamos com a publicidade à Coca Cola ainda sem versão light e ficamos mais um ano sem emprego. Não dá muita vontade de rir.

Quando eu tinha a idade do meu filho, havia menos Rudolfos. Havia menos destaques. Os Natais eram reuniões de família, com todo o respeito pelas ideologias religiosas ou não de cada um. Os presentes não eram fundamentais, os presépios e as árvores de Natal eram pretextos para muitas pessoas que se amavam construirem algo em conjunto. E bebia-se chocolate quente, com mais amor que açúcar. Partilhava-se.

Olho em volta e vejo Rudolfos a mais, o que me irrita. Criaturas que se querem destacar, narizes levantados, voluntariados de tempo exacto e coincidente com a câmara ligada. O beijo na criança. A desconstrução do valor de dar e de construir memórias.

Ser solidário é estrutural. Não tem época. Fazer voluntariado não é ser modelo para as câmaras. Apaguem os narizes. Comecem por casa. Façam chocolate quente e bolachas em conjunto. Convidem um amigo que esteja só.

Pode-se amar todo o ano. E respeitar tradições inofensivas e memórias doces sem entrar em agressividades comerciais. Serenamente. Sem narizes vermelhos. Sem heroísmos. Ficando ou não na história, mas bem no coração de todos os que queremos abraçar e não cabem num trenó.

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