A minha mãe tem grandes olhos castanhos e pestanas longas e doces, sendo que o cabelo foi castanho, arruivado, cor de raposa matreira de Aquilino - com profusão de caracóis como sorrisos - e hoje está da cor do chão do inverno ou da espuma das ondas. O seu coração é grande e forte, nele cabendo o meu pai, nós cinco, onze netos e um bisneto em forma de desejo que chegará ao nosso colo lá para Setembro.
A minha mãe tem um sorriso à chegada e uma meiguice contagiosa. Nasceu em 1924 mas os dias de hoje também são seus. Como já anda no caminho há muito tempo e os seus olhos viram muitas coisas e choraram bastante, talvez por isso agora tenham entendido descansar. Também porque correu muito e trabalhou sempre muito as suas pernas estão cansadas e os percursos são mais lentos e acho que dolorosos. Apenas acho porque opta por ser feliz todos os dias, relativizando estes factores para dar toda a importância às coisas boas que tem (que cultiva).
Na verdade acabo de chegar de sua casa, onde festejámos em família o seu aniversário. E o seu sorriso continua luminoso, os olhos brilhantes, a energia redobrada. Gira entre todos, a todos dá atenção - sente-se, Mãe - beija o meu Pai quando passa perto da sua cadeira, dá aos netos o melhor colo do mundo - sente-se, Mãe -, acompanha-nos à porta - descanse, Mãe - e dá-nos as boas noites como se, indo para fora de sua casa - os filhos criados, os netos crescidos, o bisneto ainda portátil - fossemos para os nossos novos quartos na casa grande que é o mundo, e ela continuasse sempre, mas sempre, a tomar conta de nós.
Por isso tenho a certeza que daqui a minutos me virá dizer para apagar a luz e descansar, distribuirá copos de leite e bolachas, lembrará a todos as prioridades do dia seguinte, ajudando a arrumar pastas de escola e de trabalho, talvez deixar uma flor dentro de um livro ou um bilhete escrito com carinho impresso na letra alegre, grande e redonda que usava.
Tenho a certeza que virá. Como dormiria eu hoje bem, Mãe, no dia do seu aniversário, sem me aconchegar a roupa e me cantar baixinho?
A minha mãe tem um sorriso à chegada e uma meiguice contagiosa. Nasceu em 1924 mas os dias de hoje também são seus. Como já anda no caminho há muito tempo e os seus olhos viram muitas coisas e choraram bastante, talvez por isso agora tenham entendido descansar. Também porque correu muito e trabalhou sempre muito as suas pernas estão cansadas e os percursos são mais lentos e acho que dolorosos. Apenas acho porque opta por ser feliz todos os dias, relativizando estes factores para dar toda a importância às coisas boas que tem (que cultiva).
Na verdade acabo de chegar de sua casa, onde festejámos em família o seu aniversário. E o seu sorriso continua luminoso, os olhos brilhantes, a energia redobrada. Gira entre todos, a todos dá atenção - sente-se, Mãe - beija o meu Pai quando passa perto da sua cadeira, dá aos netos o melhor colo do mundo - sente-se, Mãe -, acompanha-nos à porta - descanse, Mãe - e dá-nos as boas noites como se, indo para fora de sua casa - os filhos criados, os netos crescidos, o bisneto ainda portátil - fossemos para os nossos novos quartos na casa grande que é o mundo, e ela continuasse sempre, mas sempre, a tomar conta de nós.
Por isso tenho a certeza que daqui a minutos me virá dizer para apagar a luz e descansar, distribuirá copos de leite e bolachas, lembrará a todos as prioridades do dia seguinte, ajudando a arrumar pastas de escola e de trabalho, talvez deixar uma flor dentro de um livro ou um bilhete escrito com carinho impresso na letra alegre, grande e redonda que usava.
Tenho a certeza que virá. Como dormiria eu hoje bem, Mãe, no dia do seu aniversário, sem me aconchegar a roupa e me cantar baixinho?
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