domingo, 29 de janeiro de 2006

Procura-se um amigo

"Procura-se um amigo. Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive."
Vinicius de Moraes

domingo, 22 de janeiro de 2006

Eugene Atget
















Un Coin du quai de la Tournelle, 5e arrondissement, 1910-11.

Em 1888, Eugene Atget (12 de Fevereiro de 1857 - 4 de Agosto de 1927) iniciou a a sua actividade como fotógrafo, produzindo sobretudo trabalhos sobre arquitectura e habitantes de Paris e investigando sistemas de arquivo dos seus levantamentos durante 30 anos. Influenciou o desenvolvimento do surrealismo na arte fotográfica.

sábado, 21 de janeiro de 2006

O silêncio de se ser crescido

De repente o nada. Calaram-se os sons da infância. Deixei de ouvir tocar Beethoven pela manhã. De entrar no quente da cama dos meus pais. Nunca mais tive um jardim só meu, com uma cerca de madeira pintada de verde (“era uma vez uma casa pintada de amarelo com um jardim em volta…”).
Na cerca, de um lado, uma ramagem verde, uniforme, o lado permitido. Do outro, uma trepadeira com dentes de leão muito, muito amarelos que largavam um pó de fazer voar e espirrar e ralhar porque tudo se tornava daquela cor à nossa volta e na roupa. Os grandes sempre foram um empecilho para descobrir o mundo…
Fora da porta havia também, mais ao fundo, um outro muro, um outro mundo. As rosas eram perecíveis como crianças precoces e tristes. Não as alcançava, mas havia sempre alguém que me cortava algumas. E deixava-as morrer lentamente nos meus braços. Eram tão tristes quanto belas e até hoje são as únicas rosas de que gosto.
Depois, o campo. Todos os dias. Com buracos na estrada de terra para me fazer cair do triciclo ou guiar ao colo do pai, com ímpetos de James Dean num Volkswagen.
Toda a ternura que se cria e que serve de reserva para o resto da vida. A capacidade de criar as defesas, de acreditar, de continuar a acreditar, teimosamente, encontra-se nestes primeiros anos, nos colos muito quentes, nos abraços muito fortes.
No sótão, tudo rangia, tudo era ao mesmo tempo sólido e perecível. Cada passo era uma vida. Os morcegos que voavam. Os brinquedos de avós e tias que já não riam porque não as ouvíamos mais, mas que brincavam lá todos os dias, tenho a certeza até hoje. A bicicleta da minha mãe. O meu carrinho de bebé. E à entrada uma caixa com azulejos em que ninguém podia mexer, sempre os grandes! A garagem, onde estava o cesto onde o meu tio tinha vindo de Paris…
O serrado da casa onde se enterravam os cães e se subia ao telhado. Depois os quadros e as histórias e a noite. Tanta coisa que foge dos nossos dedos mesmo quando os apertamos junto ao coração para espremer com força tudo o que de bonito nos foi dado perceber.
O candeeiro da sala, que fazia “plim” com os nossos dedos. Um “plim” muito de fadas, muito de vai-te deitar e sonha com coisas bonitas, tens tantas coisas bonitas. Plim. Acabou tudo.

As coisas doces da vida

Janelas de Antonio Gedeão

"As Janelas do meu Quarto

Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto,
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.

Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala,
à semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,

e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,

e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,

e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,

todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
que vos pudesse rasgar !
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar."

António Gedeão

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Ainda não.

"Ainda não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar

ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem.

ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer

ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça.

ainda não há camas só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração"

António José Forte, Uma Faca nos Dentes

sábado, 14 de janeiro de 2006

Era uma vez.

Era uma vez um sonho. Longe, como no mar mais profundo da minha alma. Um sonho de regressar à infância e morrer lá, mão na mão com a solidez e pureza das mãos do meu Pai a agarrar as minhas.
Um sonho de fuga, de morte por libertação. Nunca somos tão felizes como quando era uma vez. Depois chega a vida e acabou tudo.
Numa escada vemos cada degrau, cada pedaço, cada desejo, cada flor colhida, cada cheiro. E evitamos subir mais porque lá longe, no solo, ficou o mais importante: o desejo de tudo. Todo o concreto é de evitar.
Sempre sonhei escrever histórias de pessoas. No mais inesperado dos cantos do mundo, de repente, surgia uma pessoa. Cheguei à conclusão que todas as histórias de pessoas não podem ser escritas ou teríamos uma biblioteca de Alexandria recheada de livros idênticos no conteúdo e na forma. Então parei no crescimento e quis derrubar o castelo de cartas como a Alice, vencer o peixe como o Velho, fixar a infância como Peter Pan.
Todos vivemos vidas idênticas. Como se Deus fosse uma sádica Penélope e nós fios frágeis que se cruzam, desfazem, despedem, são cortados.
Era uma vez um sonho. De voltar ao quando ainda nada era para que nada me pudesse acontecer. Tapada com todos os cobertores do mundo para não ter tanto frio cá dentro. Abraçada por todas as pessoas amáveis e passíveis de amar.
Percursos longínquos, pesadelos escuros, tanto, tanto medo que me tirem tudo. Se afinal todas as histórias são iguais. É por isso que é só uma vez. Os nossos ouvidos infantis e crédulos não se apercebem senão tarde demais. Era uma vez. Só uma.
Talvez só haja uma pessoa no mundo. Vive todas as histórias sozinha e torna todos os passos ruidosos e seguros e fala, fala, fala consigo mesma. Desmaterializada, pode uma pessoa ser uma boca a falar com um ouvido, a tocar uma mão, a fazer um filho que não é mais que ela própria ou que é ela própria, o desconhecido.
Temer o quê, na solidão? Ninguém nunca nos fará doer excepto os nossos pensamentos. Lembrar o quê se sempre estivemos sós? Memórias de amores vividos, imaginados, doridos. Essa é a parte real da dor. Porque no Amor não se procura o Narcisismo, mas o Outro. E o outro, na verdade, somos nós mesmos. A peça que falta. E que nunca será encontrada.
Assim vivemos, na sombra de sonhos, sós num planeta que não é real, acordando com um sol que não aquece e que nos leva, inconscientes, ao mundo dos outros que Não São.
Só nós Somos.
Escrevo para quem então?

Sem cigarros

Já não tenho cigarros. Cheguei tarde de Portalegre, estou cansada, apetece-me escrever compulsivamente, apetece-me um abraço e já não tenho cigarros. Está frio em Portalegre, as aulas correm bem, há um divergir de mensagens que enriquece as nossas aulas. Nos dias de semana tenho muita companhia de bons colegas, já amigos, e embora não conheça muito do local, é onde está a casa do José Régio. A areia por lá já está explorada, mas há verde nas bordas da estrada, cegonhas no céu azul - está muito frio para as cegonhas e o céu muito azul - faltam as papoilas e as flores pequeninas amarelas e azuis que sempre lhes fazem companhia. Tarda a primavera. Vim ver os mails quando cheguei a casa e consultar alguns blogs de amigos e outros de pessoas que não conheço mas que acho interessantes. Não tenho mais cigarros. Faltam-me também as papoilas. Gosto de ter amigos muito diferentes como as flores que fazem companhia às papoilas quando chega a primavera e os campos do alentejo são tão bonitos que não apetece voltar para casa. Tenho frio e já não tenho cigarros. Acho que me vou aconchegar num menino bonito que não sei porque artes pus no mundo, tão bonito, tão bonito que vou sonhar junto dele com as papoilas que tardam e os cântigos negros e os amigos e os livros (tantos, tantos) que tenho para ler, mais que os de D. Quixote. O problema é que gosto de escrever e de fumar enquanto escrevo. Amanhã irei comprar cigarros e livros. Porque as papoilas e os amigos e a cabecinha que dorme sobre um urso e a que me vou abraçar agora já os tenho sempre.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2006

As pessoas crescidas

António Lobo Antunes nasceu em Lisboa em 1942. Licenciou-se em Medicina, tirando mais tarde a especialidade de Psiquiatria. Tem-se dedicado-se à prática médica e à escrita de várias obras. Ganhou o Grande Prémio APE em 1985 com o romance Auto dos Danados e em 2000 com o romance Exortação aos Crocodilos, tendo sido várias vezes proposto para o Prémio Nobel da Literatura. É um dos escritores portugueses mais traduzidos, em especial nos países do norte da Europa. Para mim, é uma maravilha de pessoa, que se sente na escrita, que se lê com a alma. Tenho alguns dos seus livros. Li outros na Biblioteca perto de minha casa. E é O autor português com que mais me identifico, em que reencontro toda a magia da infância, todo o saudosismo do passado numa beleza de palavras exactas e doces, num corropio de sensações em me reencontro e que me faz bem. Diverso, na sua produção, tem muito de autobiográfico nas suas crónicas, muito ternurentas, muito de intervenção e observação social, muito de dramático e profundo nalgumas obras particularmente tocantes e absorventes (Os Cus de Judas, Que Farei Quando Tudo Arde?). Fica um excerto delicioso para abrir o apetite a quem não conheça e em jeito de homenagem, porque é um dos meus preferidos. Obrigado por escrever tanto e tão bem. Não sei se receberá um prémio Nobel, mas fez tanto pela literatura portuguesa que só lhe podemos estar muito gratos. Obrigado, António Lobo Antunes.

"As pessoas crescidas fui-as conhecendo de baixo para cima à medida que a minha idade ia subindo em centímetros, marcados na parede pelo lápis da mãe. Primeiro eram apenas sapatos, por vezes descobertos sob a cama, enormes, sem pé dentro, e logo calçados por mim para caminhar pela casa, erguendo as pernas como um escafandrista, num estrondo imenso de solas. (...) Ao chegar à altura da toalha aprendi a distinguir os adultos uns dos outros pelos remédios entre o guardanapo e o copo: as gotas da avó, os xaropes do avô, as várias cores dos comprimidos das tias, as caixinhas de prata das pastilhas dos primos, o vaporizador da asma do padrinho que ele recebia abrindo as mandíbulas numa ansiedade de cherne. (...) Já capaz pelo meu tamanho de lhes olhar para a cara, o que mais me surpreendia neles era a sua estranha indiferença perante as duas únicas coisas verdadeiramente importantes do mundo: os bichos-da-seda e os guarda-chuvas de chocolate. (...) Nunca percebi quando se deixa de ser pequeno para se passar a ser crescido. Provavelmente quando substituímos os guarda-chuvas de chocolate por bifes tártaros. Provavelmente quando começamos a gostar de tomar duche. Provavelmente quando cessamos de ter medo do escuro. Provavelmente quando nos tornamos tristes."


Socorro, tenho um adolescente em casa!













Pois crescem, é verdade. E tão depressa que mal viramos os olhos aquelas coisas pequeninas que choram para pedir comida começam a chorar com desgostos amorosos ou com quedas de mota... Claro que onze anos é pouco mais de uma década, mas é mais tempo do que a Primeira Guerra Mundial, e pode ser igualmente catastrófico. Por outro lado, é divertido conviver com um adolescente, seja lá o que isso seja, e ouvirmos as mesmas músicas, vermos os mesmos filmes, descobrirmos programas que gostamos de partilhar, vê-los passar com os livros da nossa juventude e da nossa adultice debaixo do braço. É bom receber os seus amigos em casa, conversar com eles de tudo e de nada, dar por nós a pedir mais que a dar conselhos. Quem educa quem? Todos aprendemos com quem amamos. E é tão bom ter um filho...

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

In memoriam







Dia 4 de Janeiro de 2006: 197º aniversário do nascimento de Louis Braille.

Louis Braille nasceu em Coupvray, no dia 4 de Janeiro de 1809. Aos três anos, quando brincava na oficina de trabalho do pai, ao tentar perfurar um pedaço de couro com uma sovela, aproximou-a do rosto, acabando por ferir o olho esquerdo. A infecção produzida pelo acidente expandiu-se e atingiu o outro olho, provocando a cegueira. Com o apoio dos pais, Louis criou hábitos de mobilidade e comunicação invulgares. Aos sete anos ingressou na instituição de Valentin Haüy que, em 1784, fundara em Paris uma escola para instruir os cegos. Haüy, apologista das filosofias sensistas, adaptara o alfabeto vulgar, traçado em relevo, a fim de que as letras fossem perceptíveis. Na mesma época, Charles Barbier de la Serre, um capitão de artilharia, aperfeiçoava um código através de pontos, legível ao tacto, usado para mensagens militares e diplomáticas, a que chamou "escrita nocturna" ou "sonografia". Teresa von Paradise, concertista cega, idealizara também um engenhoso aparelho para ler e compor ao piano. Braille tornou-se professor do Instituto Haüy, bem como organista e violoncelista. Numa conversa de salão, conheceu Alphonse Thibaud, então conselheiro comercial do governo francês, que lhe sugeriu o desenvolvimento de um sistema que permitisse a escrita e não só a leitura, aos cegos. Foi então que começou a trabalhar no código de Barbier. Após três anos, o jovem estudioso conseguiu o que queria: o sistema dos pontos em relevo representando letras. A ponta de uma sovela, o mesmo instrumento que lhe tirara a visão, passara a ser o seu instrumento de trabalho. Em 1825, o código Braille estava pronto e a primeira publicação é datada de 1829, "Processo para escrever as palavras, a música e o canto-chão, por meio de pontos, para uso dos cegos e dispostos para eles". A sua divulgação foi morosa, considerando o enorme investimento que representaria a substituição de todos os materiais didáticos anteriores. Braille ensinava alunos individualmente, sem apoio. O máximo que conseguiu foi um ofício, no qual o governo francês agradecia a sua contribuição à Ciência. Entre os seus alunos de música estava Teresa von Kleinert. O seu talento ao piano era extraordinário, o que animou Braille a ensinar-lhe o seu sistema de pontinhos. Em pouco tempo, Teresa tornou-se concertista de sucesso. Recebida com agrado nos salões da Europa, Teresa difundia, a cada apresentação, o sistema Braille e pela primeira vez os jornais falavam no seu nome, até então desconhecido. A 6 de Janeiro de 1852 Braille morreu, sem chegar a ver reconhecido o seu trabalho. Só dois anos após a sua morte o sistema foi reconhecido oficialmente na França, depois de Teresa se exibir na Exposição Internacional de Paris.

A ACAPO comemora o Dia Mundial do Braille, 4 de Janeiro, com uma conferência no Hotel Meridien, Sala Coimbra A, às 15 horas, a proferir pelo Prof. Dr. Augusto Deodato Guerreiro, Chefe do Gabinete de Referência Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, subordinada ao tema "Luís Braille e a Ampliação do Paradigma Sócio-Cultural".

A TVI transmitirá no Jornal da Uma, uma reportagem sobre o Braille e as novas tecnologias, realizada no Centro de Engenaria de Reabilitação e Tecnologias de Informação da Universidade de Trás-os-Montes, um dos pólos de desenvolvimento mais eficientes do nosso país em tecnologias adaptativas, sob a égide do Eng. Francisco Godinho.

Onde se encontra a felicidade?




















Vincent Van Gogh, Path in the Woods, Oil on canvas, Paris: June, 1887


Menina frágil e travessa, mais efémera que uma borboleta, está dentro de nós, loucos, desvairados, que a procuramos por longínquos caminhos, deixando de fruir do que está perto. Está nas pequenas coisas que compõem os nossos dias. Nos pequenos e grandes sonhos. No que fazemos de bem e de mal. Nos sorrisos que encontramos, nos olhares que trocamos com os desconhecidos e com os amigos. Na mão que nos é dada para levantar quando caímos, no empurrão que nos faz aprender que não era por ali.

Em todos esses lugares está a felicidade. Relativa como o mundo, como os homens e os seus valores. Afinal, pouco há de novo debaixo do sol, mas a verdade é que, se o deixarmos, ele aquece os nossos corações ao longo de qualquer percurso, até o mais sombrio.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Urgentemente

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.

É urgente o amor,

É urgente permanecer.

Eugénio de Andrade