Era uma vez um sonho. Longe, como no mar mais profundo da minha alma. Um sonho de regressar à infância e morrer lá, mão na mão com a solidez e pureza das mãos do meu Pai a agarrar as minhas.
Um sonho de fuga, de morte por libertação. Nunca somos tão felizes como quando era uma vez. Depois chega a vida e acabou tudo.
Numa escada vemos cada degrau, cada pedaço, cada desejo, cada flor colhida, cada cheiro. E evitamos subir mais porque lá longe, no solo, ficou o mais importante: o desejo de tudo. Todo o concreto é de evitar.
Sempre sonhei escrever histórias de pessoas. No mais inesperado dos cantos do mundo, de repente, surgia uma pessoa. Cheguei à conclusão que todas as histórias de pessoas não podem ser escritas ou teríamos uma biblioteca de Alexandria recheada de livros idênticos no conteúdo e na forma. Então parei no crescimento e quis derrubar o castelo de cartas como a Alice, vencer o peixe como o Velho, fixar a infância como Peter Pan.
Todos vivemos vidas idênticas. Como se Deus fosse uma sádica Penélope e nós fios frágeis que se cruzam, desfazem, despedem, são cortados.
Era uma vez um sonho. De voltar ao quando ainda nada era para que nada me pudesse acontecer. Tapada com todos os cobertores do mundo para não ter tanto frio cá dentro. Abraçada por todas as pessoas amáveis e passíveis de amar.
Percursos longínquos, pesadelos escuros, tanto, tanto medo que me tirem tudo. Se afinal todas as histórias são iguais. É por isso que é só uma vez. Os nossos ouvidos infantis e crédulos não se apercebem senão tarde demais. Era uma vez. Só uma.
Talvez só haja uma pessoa no mundo. Vive todas as histórias sozinha e torna todos os passos ruidosos e seguros e fala, fala, fala consigo mesma. Desmaterializada, pode uma pessoa ser uma boca a falar com um ouvido, a tocar uma mão, a fazer um filho que não é mais que ela própria ou que é ela própria, o desconhecido.
Temer o quê, na solidão? Ninguém nunca nos fará doer excepto os nossos pensamentos. Lembrar o quê se sempre estivemos sós? Memórias de amores vividos, imaginados, doridos. Essa é a parte real da dor. Porque no Amor não se procura o Narcisismo, mas o Outro. E o outro, na verdade, somos nós mesmos. A peça que falta. E que nunca será encontrada.
Assim vivemos, na sombra de sonhos, sós num planeta que não é real, acordando com um sol que não aquece e que nos leva, inconscientes, ao mundo dos outros que Não São.
Só nós Somos.
Escrevo para quem então?
Um sonho de fuga, de morte por libertação. Nunca somos tão felizes como quando era uma vez. Depois chega a vida e acabou tudo.
Numa escada vemos cada degrau, cada pedaço, cada desejo, cada flor colhida, cada cheiro. E evitamos subir mais porque lá longe, no solo, ficou o mais importante: o desejo de tudo. Todo o concreto é de evitar.
Sempre sonhei escrever histórias de pessoas. No mais inesperado dos cantos do mundo, de repente, surgia uma pessoa. Cheguei à conclusão que todas as histórias de pessoas não podem ser escritas ou teríamos uma biblioteca de Alexandria recheada de livros idênticos no conteúdo e na forma. Então parei no crescimento e quis derrubar o castelo de cartas como a Alice, vencer o peixe como o Velho, fixar a infância como Peter Pan.
Todos vivemos vidas idênticas. Como se Deus fosse uma sádica Penélope e nós fios frágeis que se cruzam, desfazem, despedem, são cortados.
Era uma vez um sonho. De voltar ao quando ainda nada era para que nada me pudesse acontecer. Tapada com todos os cobertores do mundo para não ter tanto frio cá dentro. Abraçada por todas as pessoas amáveis e passíveis de amar.
Percursos longínquos, pesadelos escuros, tanto, tanto medo que me tirem tudo. Se afinal todas as histórias são iguais. É por isso que é só uma vez. Os nossos ouvidos infantis e crédulos não se apercebem senão tarde demais. Era uma vez. Só uma.
Talvez só haja uma pessoa no mundo. Vive todas as histórias sozinha e torna todos os passos ruidosos e seguros e fala, fala, fala consigo mesma. Desmaterializada, pode uma pessoa ser uma boca a falar com um ouvido, a tocar uma mão, a fazer um filho que não é mais que ela própria ou que é ela própria, o desconhecido.
Temer o quê, na solidão? Ninguém nunca nos fará doer excepto os nossos pensamentos. Lembrar o quê se sempre estivemos sós? Memórias de amores vividos, imaginados, doridos. Essa é a parte real da dor. Porque no Amor não se procura o Narcisismo, mas o Outro. E o outro, na verdade, somos nós mesmos. A peça que falta. E que nunca será encontrada.
Assim vivemos, na sombra de sonhos, sós num planeta que não é real, acordando com um sol que não aquece e que nos leva, inconscientes, ao mundo dos outros que Não São.
Só nós Somos.
Escrevo para quem então?
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