terça-feira, 7 de março de 2006

A hora do post

Em jet-leg absoluto nos últimos tempos, andava a desleixar bastante o que para mim é importante. Mudei assim, a sagrada hora do Post. Os meus dias são como os de toda a minha geração: rápidos. Saio de casa cedo, trabalho, vou buscar o meu filho à escola. Dou-lhe - agora já menos - assistência nos seus trabalhos escolares. Dou-lhe - sempre cada vez mais - mimos, conversa, beijos. Falamos de tudo e de nada, vemos filmes, navegamos internet fora com ímpetos que fariam inveja aos navegadores portugueses de outros tempos. Consumo a sede dele de aprender e louvo a persistência e o amor com que continua próximo de mim por amizade e não pelo facto de a gestora prática da sua existência com 11 anos.
Neste bocadinho de chegada a casa consigo com alguma calma falar sobre o que gosto e ter o meu tempo de reflexão e de escrita pessoal. Contactar também com alguns amigos, responder a mails, conversar um pouco no msn, sobretudo com quem não pode comunicar de outra forma.
Depois há um espaço de paz aproveitado entre fazer o jantar e dar de jantar ao João, ligarmos um pouco a televisão "para ver se o mundo já explodiu, mãe". Não somos fanáticos e a programação já viu melhores dias, mesmo a de cabo.
A hora do Post, que é portanto esta, relaxa-me quando aterro em casa. Prepara-me para um serão pacífico.
O serão de trabalho começa depois do serão de Maria e do serão de mãe. Aí agarro nos meus trabalhos, nos meus estudos, no que for prioritário, organizo materiais para o dia seguinte, reúno com colegas de trabalho ou de grupos de discussão/intervenção.
Por más influências certamente, o meu filho tem mais blogs que a mãe. Como eu não tenho trabalhos de casa, a hora do Post dele é mais por alturas do fim-de-semana. Mas acho graça à evolução dos interesses pessoais: começou com um de cinema (só quem não o conheça...), criou um de cartoons (obviamente...) e agora tem um de actualidades sociais e ecológicas. 11 anos, tempo de mudança.
Precioso, o tempo de pensarmos no que está na alma no final do dia, reflexão não tem hora, a hora do Post é precisa, mesmo sem internet, mesmo num bloco, mesmo dentro de nós.
Gosto dos meus dias, considero-me privilegiada por ter um tecto, um trabalho que adoro (também adoro o tecto, mas mais o trabalho), um filho que amo de paixão, amigos preciosíssimos, livros que idolatro mais que D. Quixote (a minha alcunha junto de alguns amigos e amigas muito próximos, não sei bem porquê). As palavras são importantes. "Será que por acaso a flor sabe que é flor?" Vinícius cantado por Maria Bethânia, ouvido da escola para casa.
Carlos Seixas ouve-se numa casa em paz. É hora de partilha.


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