quinta-feira, 9 de março de 2006

Não há pensamento fora da escrita...

...nem escrita fora do tempo.

Passei hoje parte do meu dia na Biblioteca Nacional, onde, entre outros trabalhos, analisei estruturas de algumas teses de mestrado. Com curiosidade, por necessidade de orientação e de referência. Consultei teses na minha área de estudo e fora da minha área de estudo, consultei teses de pessoas por quem tenho grande consideração.

Muitíssimo bem impressionada pelo que lia, mesmo que em diagonal - preocupava-me apenas registar opções de estrutura - usei a varanda dos fumadores desesperados para dar um abraço a dois dos contemplados na escolha. Em Portugal, duas teses de Mestrado magnificas não foram editadas. Dois profissionais inteligentes, trabalhadores, sistemáticos, não estão a ser, como certamente tantos outros, reconhecidos. Têm sempre a generosidade e grandeza de alma de ajudar e participar em movimentos activos de intervenção e integração social. São pessoas grandes, no anonimato, quando se diz mal à boca cheia do nosso meio académico e da sua soberba. Quando se abrirão as portas de forma justa para quem quer desempenhar as suas funções, seguir a sua vocação e partilhar o seu saber através de escritas pessoais, diversas, trabalhadas?

As dedicatórias. Das três teses que consultei, nenhuma escapava ao tempo e às mudanças que ele exerce nas nossas vidas. A dedicatória de um dia não é a de outro. Pessoas entram e saiem das nossas vidas por várias razões, até pelas naturais (nascimentos e mortes). Tudo muda e tudo permanece. O tempo esculpe mesmo, não só as peças artísticas, mas todo o ser humano, e o caminho que julgamos ser a direito tem tantas irregularidades que muitas vezes voltamos ao ponto de partida, mudado o sítio e o tempo, mudados nós.

Todos nós, seres humanos, temos marcas, rugas, cabelos brancos, cicatrizes, lesões, feridas de guerra no corpo e na alma. Pelo nosso enquadramento, pelo nosso percurso, pelo nosso caminho com ou sem idealismos de areia inexplorada, com mais ou menos sobressaltos.

Tudo o que somos vem também dos nossos amigos, das pessoas que amamos e de quem nos orgulhamos. Gostei de ler um pouco das suas almas no ano 2000. Não mudaram assim tanto. Sobretudo continuam pessoas lindas e já fizeram o favor ao mundo de transmitir os genes a uma nova geração de amiguinhos. Esperemos para ver, com as rugas e dores que o tempo nos trouxer, os seus percursos. São uma esperança só por continuarem a existir na possibilidade de criar.

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