Do que mais gosto: aulas, amigos, manhãs, noites a ler, falar sobre tudo, brincar. Achar os livros escolhidos para mim, na mochila, em noites de calor, ler até de manhã. Deixar que as revoadas de pássaros e o sol me sequem o cabelo, pessoas tímidas a aparecer na transparência da manhã, o varredor de ruas que me dá bom dia e um sorriso porque estou ali sempre sózinha com o meu café e o meu cigarro, um livro, o portátil, o olhar distraído. Bom dia.
Entrar na Biblioteca quando a estão a abrir, os livros alinhados aguardando mãos, as mesas acabadas de limpar, o céu que se vê da mesa perto da janela onde me sento desde Outubro a fingir que estudo. A fingir que estudo...
Abro os livros a custo, meus amigos de infância tolerantes não se aborrecem comigo certamente. Conhecem-me a alma, tarda-me a vontade, é preciso procurar o pensamento onde ficou perdido. Página 132, Carta a Joaquim José da Costa de Macedo, Secretário da Academia das Ciências, 1 de Outubro de 1850. Não.
Saio e fumo mais um cigarro. Está uma criança a ver televisão na entrada da Biblioteca, ouço os sons de desenhos animados e os risos pequeninos. Sobre os azulejos frente ao Salão Nobre está a ser colado um trabalho gráfico ainda inacabado. Gosto de não terminar/continuar/percorrer. Lembro-me de Walter Benjamin e das Arcadas de Paris. A cabeça volta a pousar no dever. Os pássaros da manhã já devem ter acabado as migalhas da esplanada, as andorinhas fogem de si mesmas como todas as andorinhas. O céu continua azul.
(a criança deve ter três anos, mexe nos livros e nas cassetes junto a mim, olha para as letras, coça a cabeça, porque será que os adultos não sabem escrever com bonecos). Pronto, voltemos ao Castilho... A de árvore, L de leitura. "Queres ajuda?" Os olhos sorriem envergonhados, descem às sandálias, pés pequeninos, como vais atravessar o mundo, rapazinho? Quem te dará a mão? As mãos procuram-se, sabes o caminho?
Tarda começar o dia. "Ao Redactor da Revolução de Setembro, 13 de Abril de 1853". Não tenho relógio, a criança saíu para brincar, Castilho ficou nas suas cartas, eu, à minha procura, o céu persiste no azul.
Entrar na Biblioteca quando a estão a abrir, os livros alinhados aguardando mãos, as mesas acabadas de limpar, o céu que se vê da mesa perto da janela onde me sento desde Outubro a fingir que estudo. A fingir que estudo...
Abro os livros a custo, meus amigos de infância tolerantes não se aborrecem comigo certamente. Conhecem-me a alma, tarda-me a vontade, é preciso procurar o pensamento onde ficou perdido. Página 132, Carta a Joaquim José da Costa de Macedo, Secretário da Academia das Ciências, 1 de Outubro de 1850. Não.
Saio e fumo mais um cigarro. Está uma criança a ver televisão na entrada da Biblioteca, ouço os sons de desenhos animados e os risos pequeninos. Sobre os azulejos frente ao Salão Nobre está a ser colado um trabalho gráfico ainda inacabado. Gosto de não terminar/continuar/percorrer. Lembro-me de Walter Benjamin e das Arcadas de Paris. A cabeça volta a pousar no dever. Os pássaros da manhã já devem ter acabado as migalhas da esplanada, as andorinhas fogem de si mesmas como todas as andorinhas. O céu continua azul.
(a criança deve ter três anos, mexe nos livros e nas cassetes junto a mim, olha para as letras, coça a cabeça, porque será que os adultos não sabem escrever com bonecos). Pronto, voltemos ao Castilho... A de árvore, L de leitura. "Queres ajuda?" Os olhos sorriem envergonhados, descem às sandálias, pés pequeninos, como vais atravessar o mundo, rapazinho? Quem te dará a mão? As mãos procuram-se, sabes o caminho?
Tarda começar o dia. "Ao Redactor da Revolução de Setembro, 13 de Abril de 1853". Não tenho relógio, a criança saíu para brincar, Castilho ficou nas suas cartas, eu, à minha procura, o céu persiste no azul.