quinta-feira, 15 de junho de 2006

A viagem, o quadro e o artista


Reis e senhores das artes não descem ao público com facilidade, nem assumem trabalhos directamente, regra geral. Conheço e aprecio a qualidade de realizador de Peter Greenaway. Com formação em pintura, dedicou-se desde cedo a edição de filmes no Central Office of Information, tendo começado rapidamente a realizar as suas próprias produções. Entre os seus trabalhos contam-se curtas e longas metragens, quadros e obras literárias. Continua a conceber e desenvolver performances diversas, designadamente em museus.
Podemos encontrá-lo neste momento no Rijksmuseum de Amsterdão, num excelente trabalho desenvolvido sobre o fantástico quadro de Rembrandt, Ronda da Noite. Está, pois, na altura de jogarmos no euromilhões e visitarmos outras paragens um pouco mais a norte.
Só estive uma vez no Rijksmuseum. Numa ocasião em o Van Gogh Museum estava em obras e parte da colecção lá estava em exposição. Lembro-me de uma sala em que os auto-retratos de Van Gogh estavam todos colocados à altura dos nossos olhos e era simplesmente impressionante olhar para o olhar límpido e sonhador de Van Gogh, by himself... Fiquei pregada. A Ronda da Noite também é esmagador, de outra forma.
Boas memórias que me levariam lá rapidamente tivesse possibilidades e disponibilidade de tempo. Cativante é a figura do artista que, entre artistas, trabalha para cativar o público para artes. Sem separação de áreas. Quem não ouve ainda o solo do pequeno cozinheiro no The Cook the Thief His Wife & Her Lover (1989) ou quem não viu a maravilha da construção de uma fotografia em traço em The Draughtsman's Contract (1982).
Atípico, por vezes chocante, surpreendente, compadrões altos de qualidade, Peter Greenaway continua a mexer audiências, desta vez ao vivo. Deve valer a pena a aventura...

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