sábado, 25 de novembro de 2006

Liberdade, igualdade, fraternidade


Sábia Mafalda. Há duas horas atrás adormecia um bebé. Pensava, entre chuchas e biberons na pessoa que ali estaria em potência, na pessoa que sairia daquela Carlota. Pensava noutro casal amigo que se prepara para adoptar uma criança, sem fazer questão de raça ou de qualquer outra característica. Pensava obviamente demais, o que nos faz, o que nos fez? Nós que acreditamos em utopias e achamos que a humanidade e o idealismo transbordam das nossas almas e das nossas palavras, nós os das certezas, nós os crescidos com complexo de Peter Pan, que vemos filmes para crianças feitos para adultos melancólicos e nos orgulhamos em citar Alice e o Principezinho e no fundo, mãozinha na consciência, somos tão preconceituosos como o mais assumido dos racistas, tão egoístas como os que apontamos a dedo.
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Na minha última aula, falava o meu professor (um Professor verdadeiro, dos que faz pensar, o que também já vai sendo raro) da importância em naturalizar a arte na educação. E nas dificuldades que algo tão simples traria ao nosso sistema educativo. Todos iguais em quê, se à partida as circunstâncias são mesmo todas diferentes? Tanto que tenho falado sobre isso em conversas soltas, tanto que me desconheço a criticar hábitos diferentes e a apontar o dedo a formas de estar diversas daquela em que me sinto bem. A coexistência é difícil, as comunidades humanas são encruzilhadas complexas, respeitar é complexo. Também o respeito pela diferença é feito de escolhas.
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Os Resistência cantam que quando um homem nasce nasce selvagem, olho para os meus braços agora sem Carlota e penso que não. Demasiadas marcas em todos nós, nenhum homem é igual nem quando nasce. Não devia ser um drama, infelizmente é. Porque se cultiva a diferença como defeito, não como valor de liberdade. Porque a diferença passiva, oprimida ou complexada é terrível e não trabalhamos em conjunto pela diferença activa, pela escolha válida, pela aceitação do outro.
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Educação pela arte. Naturalizar potências que podem estar e permanecer castradas pela educação. Talvez ajude. Talvez abra horizontes. E antes, os direitos básicos? Faria sentido. O carinho? Sempre. O respeito? Óbvio. Será? Os pontos de interrogação, essas facas curvas que nos obrigam a pensar entre dois suspiros de criança que adormece. No futuro, aquele pedaço de tempo que nunca vivemos na prática, o provir eterno e cheio de dúvidas, lutamos por ficção científica.
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Começar por gostar de viver talvez seja um bom princípio. Quem gosta de viver cultiva a harmonia. Quando rodamos as cores do arco-íris obtemos uma cor única, a da paz, o que é mais belo, a diferença ou a igualdade? Talvez o direito de opção. Rodemos pois a paleta...

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