terça-feira, 21 de novembro de 2006

Uma questão de perspectiva

Alexandre Rodchenko


Subo ao terraço mais alto, olho o mundo em tarde cansada que cai. Cada palavra é um eco, cada folha levada pelo vento uma carta náufraga. Pássaros soltos largam sonhos dos ninhos, eucaliptos fora. Os aromas. Brincar com as pedras e fazer desenhos no chão.
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Subo ao terraço mais alto, aventureira frágil num mundo conquistado e fácil que não é meu e onde me estranho. Falta-me a mão que guia a segurança dos passos que se tomam nas direcção todas, rosas dos ventos cobertas por lágrimas - serão lágrimas? - obrigando o olhar a saltar do terraço mais alto que almeja ser a varanda sobre o mundo.
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Subo ao terraço mais alto e penso que a altura é apenas distância e isolamento, a beleza, ilusória, os sonhos, crenças desesperadas de quem nada mais tem que desesperar. Os homens brincam aos regressos a casa, falam de coisas sérias como futebol e política, em cada carro, em cada passo, em cada terraço alto, em cada varanda segura como um conceito questionável.
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Subo ao terraço mais alto onde todos querem tentar voar e ninguém salta, ninguém arrisca, melhor ver a vida levemente, corajosamente debruçados, curiosos dos outros que não somos nós, que passam em baixo, distância segura, ilusão certa, felicidade garantida, pois que há uma varanda que nos segura e separa, de pedra fria, que nos permite ver o mundo do alto do terraço mais alto, fechados em nós, sempre, onde subimos, em segurança, onde nos mandaram subir e nem sabemos porquê...

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