sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Deixei passar a madrugada

Entre a lua e o sol fez-se um acordo
Mas não se fez acorde.
Pedro Tamen
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Deixei passar a luz do sol e a madrugada fugiu da janela do olhar. Agora como começarei o dia? Sem um ponto cardeal, sem oriente. O azul do tecto da rua de nós diz-me que é manhã. Faltei à madrugada. As outras estrelas brilharam demais, o corpo pesou. Sem madrugada, sem ar, onde é o Norte do hoje? Não se perde assim a beleza de dentro de nós, todos viram, escapou, dormia sossegada, é mais antiga e mais astuciosa. Perdi-a, não se tranca a madrugada numa arca nem num bolso. Não é uma sombra cosida em nós, é para agarrar com o desejo de nascer depois da noite.
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Deixei passar o rasto da vida e vou segui-lo agora, correr pequena perante o inevitável de quem chega tarde ao filme e começa o dia depois do dia trabalhar. Sem pilhas e sem relógio, com a força do inevitável, correr para agarrar a madrugada seguinte, estar atenta aos primeiros sinais de amor a entrar no mundo, a cruzar o escuro, do lado de cá do meu planeta, do lado de cá por favor. Sempre a madrugada, para que não faça mais frio. Nem sempre acordamos a tempo, mas é bom ver nascer o sol e tentar fazer parte de tudo o que é maior.

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