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Olho para o que me cerca e vejo fontes e teoria, um computador, uma chávena de café, um maço de tabaco longamente esvaziado pelo dia fora, a coragem nas ruas da amargura e sem GPS, numa fuga cobarde, alarmada pela proximidade da almofada que hoje vencerá, certamente, a batalha.
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As fontes, pois que fiz o curso de História - embora a família me quisesse em Direito - são para ler com lucidez, os nossos olhos a procurar cirurgicamente, despudoradamente, o que queremos ver (sempre me irritaram historiadores pretensiosamente ou inconscientemente imparciais).
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A teoria, essa, é fascinante demais, droga viciante, alucinogénio para espíritos menos sãos como o meu, com vontade de viver muitas vidas para aprender muito, desaprender tudo e construir sobre todas as grelhas encontradas, ainda assim, não sendo certamente capaz de perceber o suficiente para ter a pertinência de questionar mais que uma criança que se olha a um espelho pela primeira vez.
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Em suma, perdoem-me o desabafo, devo confessar que fazer uma tese nunca me pareceu tão difícil. Escrevo compulsivamente e tenho problemas disciplinares, sinto-me sobrecarregada com sombras que são sonhos, flutuo entre o dever e o devir, não sei, certamente, o melhor caminho, mas continuo a caminhar. Afinal, trabalho com o conceito de diferença, estudo o conceito de diferença e não gosto de rotinas nem de rebanhos. Criar é bom, mesmo que seja ilusório. Diferir de nós, criar rupturas e questões que nos construam e arrasem. Noites de sono perdidas, olhos vermelhos de ler, tapete vermelho na farmácia quando vamos comprar ainda mais aspirinas. Vale a pena correr riscos? Sempre. E sorrio. Porque escrevo em distracção enquanto estudo. E quando não se olha tudo fica mais claro. Como na frase que me salta agora do livro que tenho aberto ao lado do teclado...
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"It is because writing is inaugural, in the fresh sense of the word, that it is dangerous and anguishing."
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Jacques Derrida, Writing and Difference
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