Tudo muda hoje, mudou a hora, vai mudar a quarentena, vai chegar a Páscoa, vamos continuar a mudar de vida todos os dias. Todos os dias acordamos e não saímos para o trabalho, desinfectamos tudo, como num filme ouvimos as mensagens das câmaras sobre a necessidade de ficar em casa, como num filme, vemos os nossos cabelos crescer, os nossos trabalhos atrasar, a nossa paciência para gráficos e estatísticas esgotar, saturados, cansados. Porém gratos por estarmos bem.
Lá fora chove - também isso mudou, o tempo, não o da nossa espera, o tempo do mundo, a natureza que chora por toda esta loucura - e chega-me uma luz límpida por meio das nuvens. Faço nova lista de compras de mercearia e farmácia, as únicas saídas de casa, os únicos contactos com o mundo exterior, as novidades que chegam para mudar uma casa cada vez mais imóvel com a passagem dos dias. Como se nunca tivéssemos vivido outra vida. E isso é o mais assustador de tudo, a potência de adaptação do homem à condição do medo.
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