Entre sol e estrelas, crepúsculo e amanhecer, aldebarans que caem em colos verdes fora de horas, sem espaços nem passos que os que não se deram, perfeitos, silenciosos. Sonhar com olhos abertos ou fechados, como quem faz amor à luz do dia com o sol pudicamente apagado. Sonhar que cabemos no colo de uma mão que protege, num acolher desejado e procurado. Caminhos que se cruzam como estrelas cadentes, o mar bate e os moínhos giram loucos, os livros voam das memórias e passam as palavras por nós, no espaço que não há mais, sem sufocar. Apertar pode ser bom no abraço certo, ler-nos em conjunto e silenciar o pensamento, pensar dói, loucos os que não pensam, mas sempre é melhor beijar, que tem sabor. O sal que escorre pelos olhares cai em cansaço na noite sem memória que não vê já nada a não ser o que está além do outro e quer a infância de volta para ser embalado sem idade e sem prazo. Poemas do fantástico dos nossos dias que correm demais e esperam nas alturas certas por heróis inesperados que estão ao lado e de tão perto assustam as crianças que nunca deixamos de ser. Cores múltiplas de um mundo cinzento, assombrado consigo mesmo, estrelado na noite dos sonos perdidos, alvoraçado em quem se não reconhece, perdido como um menino de sua mãe nos desvelos da música de sonho que nos sopra em brisa delicada que vale a pena esperar pelo sonho seguinte, por nada mais que o sonho seguinte. Não há outra profissão nem outro rumo que não o sonhar muito, trabalho de risco, as emoções partem as certezas do nós em tanta gente que temos cá dentro e que só quer adormecer na estrada das papoilas doces, ser regada pelo mar e levada pelo vento até ao último suspiro, de cansaço, de entrega, de rendição à cor da noite que levanta o olhar no colo do sonho, única verdade.
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