segunda-feira, 19 de março de 2007

O meu pai

Chama-se Francisco e tem 92 anos. Estudou Matemática, mas gosta muito mais de Estrelas e Nuvens, sabe mesmo o nome de todas elas, coisa que nunca serei capaz de aprender. Também sabe tirar espinhos de ouriço e picos de madeira dos dedos e fazer cabaninhas de juncos onde cabem os nossos segredos. O meu Pai tem cinco filhos, todos únicos, e eu sou a mais nova. Por isso sempre o conheci como uma pessoa crescida, mas não igual às pessoas crescidas complicadas. O meu Pai é alto como os sábios são altos, e tem uma mãos que conduzem e um colo onde cabe o mundo. Tem um sorriso nos olhos verde-água e é um homem justo, de ideias abertas e muita lealdade. É inteligente e paciente e doce e apaixonado e todas as coisas bonitas que um pai deve ser.
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O meu Pai ensinou-me a ler e ensinou-me a tabuada, ensinou-me a guiar e a gostar de história, mostrou-me o mundo e mostrou-me como somos pequeninos. Limpou as minhas lágrimas muitas vezes e segurou os meus sorrisos, ensinou-me a tentar racionalizar e relativizar os problemas (juro que tento, Pai...). Ensinou-me a respeitar e aprender com todas as pessoas.
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Quando o for ver à tarde sei que o encontrarei de sorriso no lago dos olhos verde-água, sentado no seu sofá rodeado de livros e de netos, talvez apoiado numa bengala, julgo que pelo peso do amor que foi juntando, que os pais não envelhecem, certamente que não, julgo mesmo que são eternos. Afinal, não seria justo que não fossem eternos, não consigo imaginar o mundo sem ele, gosto demais de ouvir as suas histórias e os seus conselhos, amo demais a lucidez e a experiência das suas palavras, trocadas em silêncio e de mãos dadas, numa cabana de juncos ou a caminho da toca da raposinha mais nova, aquela que não se sabe esconder do mundo e continua a precisar muito de si, Pai.
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