domingo, 18 de março de 2007

Os vivos, os mortos e os assim-assim...


Que isto de nos metermos nos caminhos da história - não chegasse termos que a viver - tem algo de masoquista. Ou estarei porventura muito cansada. Filas de nomes que pouco rasto deixaram, seguir pistas (nem sempre elementares, meu caro Watson), olhar de todos os ângulos plantas de escolas onde se perdiam meninos ansiosos por sobreviver mais que por aprender. Negociar acesso a arquivos, fotocopiar com o dinheiro do peixe que passa a congelado, que as modas não andam para bolsas de estudo, antes para bolsas vazias...
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A história faz parte de nós, constrói o nosso presente, vale a pena ler a crónica de António Manuel Hespanha (juro que não sou accionista da revista História) intitulada "It's History, Stupid!". Claro que é história, já está na história, quais grandes portugueses, grandes tolos que repetimos erros e não aprendemos nada de nada com o que se fez de mal e de bem, nada mudou afinal.
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Sorrio depois de um quase passado fim-de-semana de escrita dorida, de leituras agradáveis e outras menos (não se recomenda a introdução do Vigiar e Punir de Michel Foucault para espíritos sensíveis...). Depois de carregar toneladas de nomes e datas e cargos em bases de dados, de cruzar elementos, de procurar legislação, de consultar dicionários de português, de pedagogia, de história de portugal, de filosofia, de medicina.
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Fumariam, os promotores, nas suas reuniões? Ouviriam Rodrigo Leão? Anacronismos, pode-se brincar, não se leva menos a sério um projecto por isso. Escrever é passar ao estádio de seriedade o nosso pensamento, a nossa procura de uma resposta a uma questão, a nossa contribuição com uma peça do puzzle que fica desactualizado assim que voltamos as costas.
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É mais fácil estudar mortos que vivos, é mais fácil ter distanciamento das questões e mesmo assim o nosso envolvimento já é grande ou não adoptaríamos um tema e uma procura. Ficamos pois os assim-assim, esforçados e na penúria, os aprendizes de feiticeiros da Academia, os que adoptam com reverência as palavras de quem já escreveu mais, os que aprendem, à custa de dias de sol passados em casa, o que é ser disciplinado sem estar a fazer teses sobre Esparta.
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Assim estou eu, assim-assim, nem viva nem morta, antes pelo contrário, entre o dever e o gosto, grandemente dividida, que cai agora o sol sobre o horizonte da minha janela e deve estar bonito lá fora, chamam-me os meus mortos ("o thesoureiro, Augusto Celestino"). Não lhe posso dar esse desgosto, de o abandonar numa fotocópia ao lado de um objecto do demo com letras e luzes e sons estranhos que deita para fora uma música de violoncelo, não posso trair Augusto Celestino e ir passear, tenho que o puxar túmulo fora. "Se faz favor, Sr. Augusto Celestino, parece-lhe que o relatório de 1895 foi emitido com exactidão?". Julgo que me responderá educadamente. Afinal, os homens dos números são polidos por natureza. Poderei até, se tiver sorte, fazer um amigo, coisa que vale milhões.

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