terça-feira, 22 de maio de 2007

Crianças

Todos, sempre. Porque não há idade para fazer bolas de sabão e ficar a vê-las esvoaçar como borboletas, soprar sonhos delicados e esperar que durem para sempre, e depois duram mesmo. Crianças quando precisamos de mimos e beijinhos e colo, quando queremos que nos contem outra vez a história da noite, quando os filhos começam a passar o braço por cima de nós e ainda mal limpámos as lágrimas motivadas pelo desgosto que nos deram os patifes que mataram a mãe do Bambi. Crianças quando rimos sem saber porquê e choramos por tudo, quando o mais ínfimo dos problemas passa à titularidade de dói-dói e nos dá para arrumar desenhos inconsequentes e redacções sobre a primavera que ainda continua, ainda agora a minha mãe a mandar-me descer da árvore porque posso esfolar os joelhos e pôr o chapéu por causa do sol. Vamos pois à bomba de gasolina de triciclo, fumando cigarros de chocolate, faz bem melhor à bolsa e à saúde, sorrir sem vergonha e limpar as lágrimas e fluidos anexos à manga do bibe, sempre de riscas, claro, e com pontas de lápis de cor partidas no fundo dos bolsos. Crianças todos, cheios de medo das trovoadas e dos maus, cheios de razão e com os olhos grandes a procurar a luz que deve aparecer quase, quase a seguir, quando se abrir a porta do quarto e entrar uma mãe a encaminhar o rancho para a escola. Crianças quase bebés porque fazemos fitas e birras e todos os conflitos fossem assim resolvidos na ONU, com um beijo tolerante a saber a restos de smarties, deixando-nos sempre os crescidos dar mais uma volta no carrossel. Espero a minha vez, também quero andar agora na cadeira que gira sem parar dentro do mundo e acreditar que a volta nunca é a última, a música continua, e o senhor do algodão-doce com toda a certeza não me dará o desgosto de se ir embora, afinal não quero descer e ter 41 anos, será que algum dia os terei?

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