"Num Inverno pouco antes da Guerra das seis semanas o meu gato, Petrónio o Árbitro, vivia comigo numa velha casa rústica em Connecticut. (...) Quando ainda era gatinho, todo penugem e ronrons, Pete tinha elaborado uma filosofia simples. Eu tinha a meu cargo o alojamento, as rações e o tempo; ele tinha a seu cargo tudo o resto. Mas considerava-me especialmente responsável pelo tempo. Os Invernos de Connescticut são bons apenas para os postais natalícios; invariavelmente nesse Inverno Pete ia examinar a sua própria porta, recusava-se a sair por causa daquela desagradável coisa branca do outro lado (não era nenhum tolo), depois instava comigo para que abrisse uma porta de gente.
Ele tinha a ideia que pelo menos uma dessas portas devia conduzir ao Verão. Isso significava que de cada vez eu era obrigado a acompanhá-lo a cada uma das onze portas, mantê-la aberta até ele se convencer que por ali também era Inverno, depois passar à porta seguinte, enquanto as suas críticas ao meu desgoverno se tornavam mais amargas a cada desapontamento.
Então ele ficava dentro de casa até que a pressão hidráulica o forçava imperativamente a sair. Quando ele voltava o gelo nas suas patas soava como tamancos no soalho e ele lançava-me olhadelas furiosas e recusava-se a ronronar até ter digerido a coisa... e eu ficava perdoado até à vez seguinte.
Mas nunca desistiu de procurar a porta para o Verão."
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