segunda-feira, 30 de abril de 2007

Ser

Ser feliz é um mar de coisas simples como camisas rasgadas no pátio da escola e sumos entornados e às vezes o caldo também. Ser feliz é rir porque apetece e chorar quando se deve. Ser feliz é ser autêntico, beijar a tempo, acolher, dar-se, entregar a alma e o corpo, estar sujo em fim de dia, de calças de ganga e ténis-que-foram-brancos e sentirmo-nos a pessoa mais bonita do mundo só porque num minuto o mundo é nosso. Ser feliz é perder-se nos caminhos e chegar sempre onde se quer, numa revoada de olhares. Ser feliz é estar sempre a tempo e nunca ter horas, correr e virar a mesa, desconstruir valores porque outros se levantam com toda a força, agarrar com garras todos os raios de sol, sem excepção, soprar as nuvens cinzentas, ser inconsciente, soltar o grito que os tristes guardam e nós, os das flores, libertamos. Ser feliz é escrever porque se quer o que se quer e ser livre nas palavras e nos actos e nos desejos e nos pensamentos e viver sem medida e sem conta por todos os que estão e valem a pena leve do sorriso que se abre mesmo a tempo, que Abril chegou ao fim. Ser. Até que a morte nos separe.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

A divulgar:


Bogs são forças de opinião consistentes e poderosas nos nossos dias. Ultrapassam distâncias, não estão filiadas em nenhuma cultura específica, em nenhuma ideologia que não seja a da comunicação, em nenhum movimento que não seja o da partilha. Defendem ética e direitos humanos, com a privacidade que cada um de nós, bloggers, tem na sua forma de actuar. Por vezes, somos solidários e quando as causas são comuns, há apelos universais. Este é um deles. pedido do meu amigo Tondo Rotondo, divulgo a mensagem seguinte:

Já tive experiências próximas, não directas, de dependência de drogas, todos já tivémos experiências próximas, directas ou indirectas. A droga não é uma forma de enriquecer à custa de crianças. Sustenta economias de países. Sustenta governos. Sustenta prepotências. Devia sustentar apenas e na medida exacta a utilização de químicos, quando necessários, em terapêutica. Nunca, a manipulação de vidas frágeis que precisam de apoio e não de se negarem a lutar pelos seus próprios meios.
-


Em Portugal, existe o Instituto da Droga e da Toxicodepência, cujos dados mais actualizados podem ser consultados nos documentos anexos.



A tendência é para uma diminuição de processos legais existentes, é neles que se baseiam estas estatísticas. E estamos a falar de pessoas com responsabilidade civil, pelo que os menores ou inimputáveis não estão por aqui mencionados.

Estamos à espera que sejam os nossos filhos a ficar na mó de baixo da estatística? É preciso informar e esclarecer. Não inventar tabus. Falar muito. Dar a ler testemunhos. Falar com pessoas que tenham passado pela experiência. Apoiar os que estejam a sair dela. Renegar em absoluto quem dela se aproveite.

Ao Tondo agradeço a lembrança e o apelo. Aqui deixo a minha marca de solidariedade. Porque nela acredito. Porque desprezo profundamente todos os que constroem as suas vidas espezinhando os outros.

Aos xutos

Todos o dias te vejo

Todas as noites te quero

Eu vou procurando

Um sinal em ti

Que me faça rir

Eu espero e nunca mais vem

Vou tirando fotocópias

E vou pensando em ti

Vou adivinhando

Todos os desejos

E todos os beijos

Que temos para trocar

De tanto querer

De tanto gostar

De tanto te amar

Eu não te quero perder

Ai se ele cai

Vai-se partir

Meu coração

Vai-se partir

Todos os dias te tenho

Todas as noites te abraço

Vou aproveitando

Tudo o que tu tens

Tudo o que me dás

Nem consigo acreditar

Meu amor, se isto é só um sonho bom

Eu não quero acordar

De tanto querer

De tanto gostar

De tanto te amar

Eu não te quero perder

Ai se ele cai

Vai-se partir

Meu coração

Vai-se partir


Xutos & Pontapés

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Asas












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Asas servem p’ra voar,
P’ra sonhar ou p’ra planar,
Visitar, espreitar,

Espiar mil casas do ar.

As asas não se vão cortar,

Asas são para combater,
Num lugar infinito,

Num arco para expirar o ar.

Asas São P’ra Proteger,

Te pintar, não te esquecer,

Visitar-te, olhar,

Espreitar-te bem alto do ar.

E só quando quiseres pousar,

A paixão que te roer,

É um amor que vês nascer,

Sem prazo e idade de acabar.

Não há mais para te prender,

Aconteça o que acontecer.


GNR, Asas


"A história da aviação portuguesa está indissociavelmente ligada à Amadora e em especial a esta freguesia. Aqui se realizou, em 1917, o primeiro Festival Aéreo em território nacional. Em 1919, é criado o Grupo de Esquadrilhas da Aviação da República. O campo de aviação e aquele grupo instalaram-se nos terrenos onde hoje se situa a Academia Militar, e dali se iniciaram verdadeiras epopeias heróicas para a época. destas se destacam a viagem do avião “Pátria” a Macau, em 1924, com Brito Pais, Sarmento Pimentel e Manuel Gouveia; a viagem a Goa, em 1930, com Moreira Cardoso e Sarmento Pimentel; e a viagem de ida e volta a Timor, em 1934, com Humberto da Cruz e Gonçalves Lobato."

Caminho livre



Banda desenhada é cultura, pode também ser informação e intervenção.

Parabéns pela coragem, Maurício de Sousa.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Pos(t) 1974

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Seria curioso, mas o número não coincide. No entanto hoje temos celebrações por todo o país. Memórias de longe, outras de mais perto, both sides of the gun, sem rosas, senhores, com cravos, ideologias e memórias incontornáveis - ler Os Cus de Judas para perceber parte da necessidade de reformas que ocorreram - há informações históricas e interventivas pela blogosfera. Várias reportagens se anunciam na RTP e na rádio. Várias reflexões em circulação, modos diversos de pensar que soam vagamente a liberdade de expressão... Se ainda há cépticos, digo-vos: não estaria a escrever aqui. Estas viragens históricas não são tema leve: como estamos nós no presente e que geração é a nova?

Gosto de exemplos. Rui Cruz é um jovem de 19 anos que trabalha em informática. Nascido pós 25 de Abril, não tem memória consistentemente formada sobre essa fase da nossa história, sabe que foi marcante, tem ideias soltas sobre o assunto. Nunca esteve numa guerra. Nunca sentiu a censura sobre o seu pensamento. No entanto, tem um espírito bem filho da sua época. E é continuador, por mote próprio, de um sentir e de uma luta que são universais.
Biografar o Rui como a geração seguinte é um desafio que lhe agradeço e que me faz sentir particularmente responsável. Porque não falo de uma pessoa qualquer. Falo de um amigo. O Rui Cruz é o que considero um sobredotado natural e um autodidata na sua área. Persistente, tem valores chave como a lealdade e o empenhamento. Interessa-se por aprender e está sempre aberto a novos investimentos na sua formação e nos seus conhecimentos. Retoma os seus estudos neste momento, mas faz formação em contínuo. E é um excelente formador, paciente e atencioso.
Socioalmente interveniente, é peça-chave de grupos de discussão on-line sobre acessibilidade à tecnologias por parte de cidadãos deficientes e é sempre um dos primeiros a procurar e propôr soluções para os pedidos que entram. Tem portanto espírito de iniciativa, é participativo e activista, luta pró-direitos humanos e quando digo luta não é vocalizando ou escrevendo, mas agindo.
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Trabalha em diversas áreas: tecnologias adaptativas, gestão de domínios, administração e coordenação de foruns de discussão online, formação e apoio técnico, gestão de websites pessoais e é blogger. Todos os seus projectos têm um espírito de iniciativa, uma criatividade e uma diversidade temática que só poderia caber nos dias de hoje.
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Em particular, penso no seu espaço enquanto blogger e na irreverência da sua escrita e dos seus gostos musicais. Sugiro que passem por lá com olhos de ler. Julgo que não sobreviveria antes do 25 de Abril... Ou o regime mudaria mais cedo, que o meu amigo é notável e continua hoje, sem o saber, a encarnar um espírito de rebeldia e de desafio fundamentados e persistentes.
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Talvez possamos contar com o Rui Cruz para continuar a mudar o que não está correcto, afinal o sistema mudou de forma radical mas continuamos a ter laivos de prepotência aqui e ali, cartazes estranhos pela cidade, censura de temas e de termos, compra de favores, apadrinhamentos de causas, julgamentos de situações e de opções que não são mais que pessoais em hasta pública. Dia de pensar no que falta fazer e seguir o exemplo da pureza da geração que luta como se nada fossem dados adquiridos, geração a homenagear, sobretudo por ser a continuadora. Talvez não seja a nova geração a agradecer-nos apenas, mas a passagem de testemunho seja igualmente importante e tenhamos que agradecer à geração do Rui.
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"Já o tempo se habitua a estar alerta...", José Afonso gostaria, certamente, de ter sido amigo do Rui. Mesmo em versão hip hop...

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Sant Jordi


Por mão amiga me chegou a notícia de dia de festas na Catalunha.


Podem ler bons artigos sobre este dia e as suas lendas e tradições nos posts: Amo Sant Jordi e Terra Liurre.


Dia de Livros e Rosas, hoje, em terras de Antoni Gaudí, Salvador Dalí, Juan Miró, Pablo Picasso, Josep Carreras, Montserrat Caballé, Jordi Savall...


Maravilhosa Catalunha de povo sonhador, idealista, lutador e amigo.
A minha homenagem e o meu abraço.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

A Ordem Natural das Coisas


"Se penso, meu amor, na vilazinha da meia dúzia de chalés tombados, sem proprietário, onde as aranhas fiavam o abandono, em equilíbrio sobre as ravinas e o grito das aves, e a comparo com este apartamento de Alcântara junto à passagem de nível do comboio e aos navios do Tejo que nos roçam as fronhas coroados de delfins, as minhas pernas procuram, sem que me dê conta, o côncavo dos teus joelhos, e comprimo o peito contra as tuas costas numa súplica de protecção que me confunde por me parecer ridículo um homem de quarenta e nove anos em busca de auxílio numa rapariguinha de dezoito ocupada a sonhar com arcanjos de motorizada vestidos de blusão de cabedal, acelerando, para a salvar, do velhote inofensivo que sou, atarantado de timidez e de surpresa. E contudo, Iolanda, não julgues que a minha vida numa aldeola da região da Ericeira em que os eucaliptos gotejavam as lágrimas de um desgosto sem cura não era agradável: era agradável. Quando a ciática não a afligia, descarnando-a de sofrimento no colchão, a cozinheira jogava às cartas comigo no quarto da caldeira avariada, enquanto os polícias secretos estremeciam o soalho sobre as nossas cabeças, a combinarem torturas e prisões. Em certas madrugadas de outono o mar e o vento amansavam e distinguia-se uma língua de areia logo povoada de toldos, de cabazes de comida, de pirâmides de chinelos e de famílias em roupão. Mimosas brotavam dos penedos e nos chalés flutuavam as candeias dos habitantes de outrora, até que uma camioneta de carreira arrebanhava os veraneantes que seguiam a chocalhar para Lisboa, à medida que as vagas engoliam a praia, o céu se cerrava em nuvens de tempestade com arestas de gaivotas gritando pelas rochas, as copas das árvores libertavam cardumes de pintarroxos dementes, e a minha madrinha, indiferente à tempestade, pegava na agulha de crochet e sonhava com americanas extravagantes, vestidas de sandálias e panamá como para uma expedição aos trópicos. Um comboio abriu a noite perpendicular aos candeeiros da Avenida de Ceuta e paralelo ao rio bordado de armazéns, de pontões, de gruas, de guindastes, de contentores e de veículos de carga, a aguardarem a lúcia-lima da aurora e os operários que caminhavam no sentido do Tejo, custosos de distinguir na hesitação do sol."
-
António Lobo Antunes

terça-feira, 17 de abril de 2007

A verdade serve-se crua


A Marcha Mundial Contra a Fome é uma manifestação global anual destinada a promover a sensibilização e recolha de fundos para os programas que abordam o problema da fome infantil. Há alimentos suficientes para alimentar toda a população mundial durante quase meio século. Apesar disso, mais de 300 milhões de crianças em todo o mundo sofrem de fome crónica. A fome e a subnutrição são as causas de mais de metade do número total de mortes de crianças, numa totalidade anual de aproximadamente 6 milhões de vítimas. Pode ser fornecida uma refeição escolar a uma criança que tem fome pela quantia de 16 cêntimos por dia. De que estamos à espera?
Esta acção de solidariedade social desenvolve-se no âmbito de uma parceria estabelecida em 2002 com o World Food Programme das Nações Unidas. No ano de 2006 participaram na Marcha mais 760 mil pessoas, em cerca 118 países, tendo sido angariados cerca de 2 milhões de dólares em todo o Mundo.
Em 2007, no dia 13 de Maio, esta iniciativa terá de novo lugar, sob o mote: Walk the World'07, em Portugal às 10:00h, como em mais de 420 cidades, distribuídos nos 24 fusos horários do planeta, com o objectivo de reunir pelo menos 1 milhão de participantes em todo o mundo e 25 mil em no nosso país.
Não vale a pena sequer comentar ou argumentar. Faz sentido. É para participar ou divulgar.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Terá chegado?



Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera,
uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.

Miguel Torga

Terá chegado?



Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera,
uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.

Miguel Torga

Terá chegado?



Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera,
uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.

Miguel Torga

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Global e transmissível

Alô, moça da favela - aquele abraço!
Todo mundo da Portela - aquele abraço!
Todo mês de fevereiro - aquele passo!
Alô, Banda de Ipanema - aquele abraço!
Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu - aquele abraço!
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Gilberto Gil
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Chat=conversa? Pois sim, que os tempos mudam, as lareiras já eram ou foram despromovidas a histerismos arquitectónicos de urbanizações periféricas. Conversa-se noutros lares (home is where the heart is), há que acompanhar os novos tempos, o que é uma forma delicada de dizer que envelhecemos todos os dias e os queremos viver estupidamente, ou seja, depressa demais. Cada passo de modernidade é uma alteração aos nossos hábitos. Entrar numa sala de chat não significa já mudar de divisão, mas de dimensão. Primado do virtual, onde fica o concreto?
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As cartas actuais tornariam ainda mais surreal o mundo de Alice, a metáfora deslocou-se, o papel também, agora viaja em casais de bits. Os cartões de Natal são gifs mais ou menos animados, os desejos de Páscoa Feliz, Bom Ano Novo, Feliz Aniversário, deixaram as papelarias em ruínas, a relva não voltará a crescer, é mais rápido, barato e expedito mandar uma mensagem impessoal e uniforme para todos os nossos contactos. Vá lá, se formos gentis, por grupos, consoante a relação e a confiança que a nossa organização mental imponha às relações humanas geridas, agora, em forma de arquivo electrónico.
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Acompanhar os tempos? Expressão estranha. Como se alternativas houvesse e nos pudéssemos sentar num cantinho, isolados do mundo real, numa perspectiva lata, o computador e, em particular, as telecomunicações, passaram ao estatuto do electrodoméstico mais primário, estaremos a desumanizar-nos e a ser substituídos? Depende. A velocidade com que as acções e as comunicações se processam já não é a mesma de há 10 anos atrás. Numa década, naturalizou-se a velocidade de produção de informação e a da sua transmissão. Não há fugas nem desculpas. Haverá? Há quem não tenha um prato de sopa na mesa esta noite. Há quem não saiba ler. Há quem não queira (parece-me que ter vontade própria ainda é legal). Os bons selvagens dos tempos modernos. Os estigmatizados. Os info-excluídos voluntários ou não. Ou os que sabem aproveitar o lado positivo da globalidade e proximidade virtual sem se desumanizarem.
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Perdoem-me a franqueza, mas não façamos da vida uma rapidinha... Nunca vi um computador funcionar sem um coração de gente a bater por perto. Julgo que não se constroem nem gerem sózinhos. Tão imperfeitos que parecem gente, talvez porque gente os faça e utilize (por enquanto).
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Vai um abraço? Pode ser por aqui. Ou quando nos encontrarmos todos, no dia por nós escolhido, para os sem juízo, afinal, sorrirem, e continuarem a acompanhar os tempos que são seus.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Tenho saudades!

Tenho saudades de ser pequena em colos grandes. Tenho saudades de fugir de casa de triciclo. Tenho saudades de trepar aos telhados e de ser eu. Tenho saudades de me ralharem e me esconder atrás do meu cão. Tenho saudades de me darem beijinhos de boa noite e de jantar de pijama e cabelo molhado. Tenho saudades de acordar de madrugada para puxar o sol do sono demasiado longo para dias demasiado curtos, de comer laranjas tiradas das árvores e de passear entre trepadeiras e olhar as flores amarelas que fazem espirrar (dentes-de-leão?).
Tenho saudades de acordar com o meu irmão Francisco a tocar Beethoven e sentir as notas encostada ao piano, tenho saudades dos bolos de anos que a Mãe fazia (horas a fazer bonecos, nunca vi), tenho saudades de ir com o Pai cortar árvores de Natal pequeninas que pareciam enormes e de sacudir os presentes para perceber o que tinham dentro.
Tenho saudades de pedir licença para ver televisão, tenho saudades de ficar de castigo quando fazia asneiras, tenho saudades de apanhar com boladas dos meus irmãos, tenho saudades de chorar lágrimas pequeninas, que as grandes pesam muito e a força ficou lá atrás.
Tenho saudades de pessoas, tenho saudades de quem falta, de quem parte, de quem sabemos que não volta e de quem certamente voltará mas não está agora. Tenho saudades do mar e tenho saudades de saltar nas rochas e encontrar estrelas do mar e ouriços. Tenho saudades da areia grossa da Ericeira e tenho saudades dos meus sobrinhos bebés. Tenho saudades do meu filho quando crescer e tiver os filhos dele. Tenho saudades do passado, do presente e do futuro. De músicas e cheiros e vozes que não ouvirei nem sentirei mais. Tenho saudades de rir com a Catarina. Tenho saudades de guiar o Volkswagen do meu pai. Tenho saudades de tudo e de nada, porque não podemos ser íntegros nunca e ter em nós ao mesmo tempo todas as coisas que nos compõem sejam elas memórias ou desejos? Haverá maneira de saírem de si mesmas e regressarmos, em todas elas, sem faltar uma única, a nós?

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Calma?

Queremos que o tempo corra ou que o tempo páre. Sentido inverso aos ponteiros do relógio, a minha direcção preferida. Por tudo, por quem estamos, por onde estamos, pelo que fazemos, não fizémos, gostaríamos de ter tempo de fazer. Aflita com trabalho em dias de pausa, não chego para as corridas que faço sentada, só os dedos nas teclas, os olhos a devorar ideias que logo se fixam e encaixam onde me parece fazer sentido e amanhã quem sabe se não. Hesito entre leituras que quero e leituras que devo, entre ter o corpo dócil e dominado como pregam os meus teóricos, prisão da alma, e correr por mim fora, que venha o amanhã, D. Quixote lia, não escrevia, vivia sobretudo. Revejo o filme calmo e a coordenação com a ansiedade daquelas poucas palavras e muitas procuras. Lentos os dias, lentos nós. Na medida certa, crescer ou ficar assim mesmo, crias a pedir braços, de birra com a vida, farta dos minutos, dos ponteiros, mergulho o relógio no chá de desaniversário e volto a página ou a folha de nenúfar, a espuma dos dias trará um sorriso no amanhã?

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Què en penseu?

"En resolución, él se enfrascó tanto en su lectura,
que se le pasaban las noches leyendo de claro en claro,
y los días de turbio en turbio, y así,
del poco dormir y del mucho leer,
se le secó el cerebro, de manera que vino a perder el juicio.
Llenósele la fantasía de todo aquello que leía en los libros,
así de encantamientos, como de pendencias, batallas, desafíos,
heridas, requiebros, amores, tormentas y disparates imposibles,
y asentósele de tal modo en la imaginación que era verdad
toda aquella máquina de aquellas soñadas invenciones que leía,
que para él no había otra historia más cierta en el mundo."
-
-
Já falei por aqui várias vezes de D. Quixote. Uma grande amiga chama-me assim. Gosto particularmente do livro de Cervantes, que marcou o início de uma escrita romanceada que me diz muito porque tem ricas e diversas leituras. De filmes conhecia a versão póstuma de Orson Wells. Conheço a partir de hoje Honra de Cavalaria, realizado por Albert Serra. Bom ouvir falar catalão e ver belíssima fotografia de quem entendeu a filosofia do sonhador (haverá filósofos ou sonhadores que saibam de que lado nasce o sol?). Bons os diálogos, nem a mais nem a menos, incisivos, como o é a mente de quem amava perder a vida nas suas estantes até ao céu, lutava contra gigantes e só pedia aos amigos confiança. "Confias em mim?". Boa pergunta. Acabou enjaulado como todos os que se apontam como loucos ou inconscientes. Não me parece que se tenha arrependido de ler ou pensar demais. Nem de confiar, mesmo sabendo que a realidade pode não estar no horizonte visível mas no sonhado. Está com certeza. Talvez fosse mesmo louco. Talvez o seja eu.
-
Como diria o meu amigo catalão, què en penseu?

terça-feira, 3 de abril de 2007

Mergulhar em Abril

Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar.
-
Sophia de Mello Breyner
-
Mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.
Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno,
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro del universo:
El abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidos
en un único deseo:
Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.
-
Alejandro Amenábar
-
Poetas de nós, no nosso elemento apenas nos encontramos, a felicidade gigante a rir-se do mundo que nos escorre imperceptível. Aprendi a nadar na Ericeira, sob o olhar azul e atento do Senhor António, somos um com a natureza, a nossa natureza é única, da água vimos, não do pó. Por cada onda que vem, o medo foge com ela, nós presos talvez nas algas que arrepiam como tudo o que se não conhece, antes de estarmos completos. Sôfregos de água como do ar, como do amor, como dos elementos que inventamos para nos elevar acima dos dias que correm e olhar só a lua despida e clara quando o vento ainda frio de Abril nos congela o cabelo encharcado, o corpo doce e dorido como num sorriso complacente que escorrega e molda a vida enquanto é, mar adentro, mar adentro, ciclos doces afinal. Salvam-se as almas de palavras a mais ou a menos, embala o rugido de um pai que brinca com o nós mesmo que somos só na água. Maré intensa, que a lua sorri, como não estar feliz em Abril e sempre? Saber e sabor a tudo, os campos estão da cor do limão, a água rega como música e nascemos de novo, peixes arraçados de gente, voltando à casa mãe. Boa noite. Se forem a tempo ainda verão a lua das janelas. Lá, também deve haver água. Porque sorriria, então?

segunda-feira, 2 de abril de 2007

LOL

Já passa da meia-noite, deram por isto?


Gosto de imaginações férteis associadas a boa disposição. Bom Primeiro de Abril, quem terá levado a sério o que seria o pesadelo de ecologistas e arquivistas? Imprimir os mails pessoais e ENVIÁ-LOS POR CORREIO NUM CAIXOTE? Gostei. É bom começar a semana a sorrir.