quarta-feira, 25 de abril de 2007

Pos(t) 1974

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Seria curioso, mas o número não coincide. No entanto hoje temos celebrações por todo o país. Memórias de longe, outras de mais perto, both sides of the gun, sem rosas, senhores, com cravos, ideologias e memórias incontornáveis - ler Os Cus de Judas para perceber parte da necessidade de reformas que ocorreram - há informações históricas e interventivas pela blogosfera. Várias reportagens se anunciam na RTP e na rádio. Várias reflexões em circulação, modos diversos de pensar que soam vagamente a liberdade de expressão... Se ainda há cépticos, digo-vos: não estaria a escrever aqui. Estas viragens históricas não são tema leve: como estamos nós no presente e que geração é a nova?

Gosto de exemplos. Rui Cruz é um jovem de 19 anos que trabalha em informática. Nascido pós 25 de Abril, não tem memória consistentemente formada sobre essa fase da nossa história, sabe que foi marcante, tem ideias soltas sobre o assunto. Nunca esteve numa guerra. Nunca sentiu a censura sobre o seu pensamento. No entanto, tem um espírito bem filho da sua época. E é continuador, por mote próprio, de um sentir e de uma luta que são universais.
Biografar o Rui como a geração seguinte é um desafio que lhe agradeço e que me faz sentir particularmente responsável. Porque não falo de uma pessoa qualquer. Falo de um amigo. O Rui Cruz é o que considero um sobredotado natural e um autodidata na sua área. Persistente, tem valores chave como a lealdade e o empenhamento. Interessa-se por aprender e está sempre aberto a novos investimentos na sua formação e nos seus conhecimentos. Retoma os seus estudos neste momento, mas faz formação em contínuo. E é um excelente formador, paciente e atencioso.
Socioalmente interveniente, é peça-chave de grupos de discussão on-line sobre acessibilidade à tecnologias por parte de cidadãos deficientes e é sempre um dos primeiros a procurar e propôr soluções para os pedidos que entram. Tem portanto espírito de iniciativa, é participativo e activista, luta pró-direitos humanos e quando digo luta não é vocalizando ou escrevendo, mas agindo.
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Trabalha em diversas áreas: tecnologias adaptativas, gestão de domínios, administração e coordenação de foruns de discussão online, formação e apoio técnico, gestão de websites pessoais e é blogger. Todos os seus projectos têm um espírito de iniciativa, uma criatividade e uma diversidade temática que só poderia caber nos dias de hoje.
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Em particular, penso no seu espaço enquanto blogger e na irreverência da sua escrita e dos seus gostos musicais. Sugiro que passem por lá com olhos de ler. Julgo que não sobreviveria antes do 25 de Abril... Ou o regime mudaria mais cedo, que o meu amigo é notável e continua hoje, sem o saber, a encarnar um espírito de rebeldia e de desafio fundamentados e persistentes.
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Talvez possamos contar com o Rui Cruz para continuar a mudar o que não está correcto, afinal o sistema mudou de forma radical mas continuamos a ter laivos de prepotência aqui e ali, cartazes estranhos pela cidade, censura de temas e de termos, compra de favores, apadrinhamentos de causas, julgamentos de situações e de opções que não são mais que pessoais em hasta pública. Dia de pensar no que falta fazer e seguir o exemplo da pureza da geração que luta como se nada fossem dados adquiridos, geração a homenagear, sobretudo por ser a continuadora. Talvez não seja a nova geração a agradecer-nos apenas, mas a passagem de testemunho seja igualmente importante e tenhamos que agradecer à geração do Rui.
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"Já o tempo se habitua a estar alerta...", José Afonso gostaria, certamente, de ter sido amigo do Rui. Mesmo em versão hip hop...

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