quinta-feira, 12 de abril de 2007

Global e transmissível

Alô, moça da favela - aquele abraço!
Todo mundo da Portela - aquele abraço!
Todo mês de fevereiro - aquele passo!
Alô, Banda de Ipanema - aquele abraço!
Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu - aquele abraço!
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Gilberto Gil
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Chat=conversa? Pois sim, que os tempos mudam, as lareiras já eram ou foram despromovidas a histerismos arquitectónicos de urbanizações periféricas. Conversa-se noutros lares (home is where the heart is), há que acompanhar os novos tempos, o que é uma forma delicada de dizer que envelhecemos todos os dias e os queremos viver estupidamente, ou seja, depressa demais. Cada passo de modernidade é uma alteração aos nossos hábitos. Entrar numa sala de chat não significa já mudar de divisão, mas de dimensão. Primado do virtual, onde fica o concreto?
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As cartas actuais tornariam ainda mais surreal o mundo de Alice, a metáfora deslocou-se, o papel também, agora viaja em casais de bits. Os cartões de Natal são gifs mais ou menos animados, os desejos de Páscoa Feliz, Bom Ano Novo, Feliz Aniversário, deixaram as papelarias em ruínas, a relva não voltará a crescer, é mais rápido, barato e expedito mandar uma mensagem impessoal e uniforme para todos os nossos contactos. Vá lá, se formos gentis, por grupos, consoante a relação e a confiança que a nossa organização mental imponha às relações humanas geridas, agora, em forma de arquivo electrónico.
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Acompanhar os tempos? Expressão estranha. Como se alternativas houvesse e nos pudéssemos sentar num cantinho, isolados do mundo real, numa perspectiva lata, o computador e, em particular, as telecomunicações, passaram ao estatuto do electrodoméstico mais primário, estaremos a desumanizar-nos e a ser substituídos? Depende. A velocidade com que as acções e as comunicações se processam já não é a mesma de há 10 anos atrás. Numa década, naturalizou-se a velocidade de produção de informação e a da sua transmissão. Não há fugas nem desculpas. Haverá? Há quem não tenha um prato de sopa na mesa esta noite. Há quem não saiba ler. Há quem não queira (parece-me que ter vontade própria ainda é legal). Os bons selvagens dos tempos modernos. Os estigmatizados. Os info-excluídos voluntários ou não. Ou os que sabem aproveitar o lado positivo da globalidade e proximidade virtual sem se desumanizarem.
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Perdoem-me a franqueza, mas não façamos da vida uma rapidinha... Nunca vi um computador funcionar sem um coração de gente a bater por perto. Julgo que não se constroem nem gerem sózinhos. Tão imperfeitos que parecem gente, talvez porque gente os faça e utilize (por enquanto).
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Vai um abraço? Pode ser por aqui. Ou quando nos encontrarmos todos, no dia por nós escolhido, para os sem juízo, afinal, sorrirem, e continuarem a acompanhar os tempos que são seus.

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